Em todas as suas performances, Charlize Theron consegue imprimir uma fisicalidade a suas personagens como poucos atores conseguem. Isso é sensível sobretudo em longas de ação, como Aeon Flux, Mad Max: Estrada da Fúria e Atômica. The Old Guard se beneficia do sucesso da atriz nessas performances, conferindo às cenas de ação da sua personagem, a imortal Andy, um vigor e fluência típicas de quem sabe precisamente o que fazer em combate e qual intensidade empregar em cada um dos movimentos que usa contra seus adversários.
Fora Charlize, a produção original da Netflix parece não ter muito fôlego e absolutamente tudo que surge na tela aparece apenas como potencialidade. The Old Guard conta com uma mitologia relativamente interessante que envolve uma história sobre um grupo de guerreiros com poderes de regeneração, algo que os transforma em imortais. Eles estão entre nós há muitos anos até que são descobertos por homens inescrupulosos que se interessam pelos seus dons para lucrar com a cura de algumas enfermidades como o câncer.
O grupo de personagens que acompanha a protagonista é bem heterogêneo (bem mais que a usual média de protagonistas de filmes de ação). Além disso, é um coletivo composto por atores que conseguem imprimir muito carisma na tela. Kiki Layne, Matthias Schoenaerts, Marwan Kenzari, Luca Marinelli funcionam bem como equipe, têm química com todas as suas idiossincrasias, ainda que as mesmas sejam exploradas apenas na sua superfície pelo projeto.
O grande problema de The Old Guard é exatamente sua superficialidade, sobretudo porque em diversos momentos ele acena para um aprofundamento de temas e relações e esse outro tratamento o transformaria em um longa tão mais interessante do que ele de fato é. O filme aparenta se contentar em usufruir apenas a borda daquilo que sua trama sugere, desde as relações entre os membros da equipe, passando pelo mais elementar para a riqueza da história, a mitologia do exército de imortais. Ao mesmo tempo, o filme incorre em uma série de tropeços bobos, como a presença desnecessária de vilões rasos cujos principais motes giram em torno da ganância da indústria farmacêutica.
The Old Guard acena abertamente para o futuro com a promessa de algumas sequências, ao menos é o que dá a entender no seu terceiro ato. Caso o filme não tivesse de fato pontos bastante positivos a serem ressaltados, poderíamos encarar as reticências da sua história com uma certa "preguiça". No lugar disso, acredito que uma autocrítica bem feita dos envolvidos pode levá-los a aparar algumas arestas de um material que só precisa de um polimento para realmente saltar aos olhos e se sobressair em meio a tanta coisa genérica desse primeiro filme.
The Old Guard, 2020. Dir.: Gina Prince-Bythewood. Roteiro: Greg Rucka. Elenco: Charlize Theron, Kiki Layne, Matthias Schoenaerts, Chiwetel Ejiofor, Marwan Kenzari, Luca Marinelli, Harry Melling, Van Veronica Ngo, Natacha Karam. Disponível na Netflix, 125 min.
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