Em mais um esforço de adaptar alguns dos clássicos no catálogo de HQs da DC Comics, a divisão de animação da Warner que tem cuidado dos títulos do selo traz para o público Superman: Entre a Foice e o Martelo, de Mark Millar e publicada como minissérie em 2003. A ideia da HQ era reimaginar a mitologia dos super-heróis da DC Comics no cenário da Guerra Fria, introduzindo ao público uma versão soviética do Superman.
Superman: Entre a Foice e o Martelo é um dos clássicos da editora e sua versão animada segue com a mesma qualidade do material original. Um dos pontos altos dessa história é saber reescrever um momento importante da história da humanidade - e, consequentemente, vislumbrar todas as possíveis consequências futuras dos seus eventos - inserindo todo o seu catálogo de super-heróis que, ao mesmo tempo, se adaptam a esse novo contexto, mas também preservam suas principais características.
Assim, temos o mesmo Superman com senso de justiça e retidão de caráter que conhecemos, mas a adaptação imagina como seria a trajetória desse personagem caso tivesse sido manipulado pelo governo soviético e tivesse tomado a frente do comunismo. Nesse universo, o Batman se transforma em um terrorista opositor do Superman impulsionado pelo mesmo trauma da morte dos pais em sua infância e investido no propósito de promover o caos. Enquanto isso, Diana Prince, a Mulher Maravilha, atua como uma diplomata tentando aparar as arestas entre Superman de um lado e Lex Luthor, líder americano e defensor ferrenho do capitalismo, do outro. Nesse meio tempo, Superman: Entre a Foice e o Martelo ainda insere dentro desse contexto a tropa dos Lanternas Verde, Brainiac etc.
Essa capacidade de preservar a mitologia DC e, ao mesmo tempo, reinventá-la para servir ao propósito de narrar um importante episódio histórico e traçar um incisivo discurso político sobre o tema conferem excelência a um material que acaba repetindo o êxito em sua versão animada. O filme ainda confere múltiplas camadas às suas personagens, fazendo questão de pontuar traços dúbios mesmo em uma figura que ainda aqui preserva sua inspiração heroica como o Superman. A qualidade técnica da animação segue os melhores trabalhos da Warner com o catálogo da DC, prezando pela plasticidade e inventividade na composição dos seus planos e ainda por conferir dinamismo às suas empolgantes cenas de ação.
Seguramente, Superman: Entre a Foice e o Martelo é um dos melhores, mais corajosos e adultos trabalhos do estúdio com os personagens da DC. O filme adapta muito bem e de maneira muito concisa o seu material de origem e consegue trabalhar com organicidade e complexidade uma trama com tantos personagens e vias de leitura.
Superman: Red Son, 2020. Dir.: Sam Liu. Vozes de: Jason Isaacs, Amy Acker, Diedrich Bader, Vanessa Marshall, Phil Morris, Paul Williams, Greg Chun, Phil LaMarr, Jim Meskimen, Sasha Roiz, William Salyers. Google Play, 84 min.
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