Numa manhã de novembro de 1981, o mundo foi surpreendido com a notícia da morte de Natalie Wood, estrela de longas como Juventude Transviada, Amor Sublime Amor e Clamor do Sexo, que teria se afogado acidentalmente durante uma viagem. Até hoje o caso é cercado de boatos e investigações policiais que são reabertas sem desfecho satisfatório, a maioria delas, diga-se de passagem, repletas de suspeitas de sensacionalismo. O documentário Natalie Wood: What Remains Behind retoma o caso, mas, apesar da chamada, não tem o seu forte nesse episódio triste da biografia da estrela, mas sim na maneira como constrói a figura humana de Wood em vida.
A produção da HBO é dirigida por Laurent Bouzereau, um dos funcionários mais dedicados de Steven Spielberg na produção dos documentários sobre seus filmes que costumam integrar extras de DVDs ou que já foram veiculados na TV como material da promoção dos títulos da carreira do diretor. Assim, o que o espectador acaba vendo em Natalie Wood: What Remains Behind não é um documentário confrontativo, mas sim um material que acaba celebrando a história da sua biografada, assumindo ainda mais o seu teor de homenagem à Wood quando chama uma de suas filhas para ser peça fundamental das entrevistas mais nevrálgicas da produção, uma delas com o ex-marido da atriz e também ator Robert Wagner.
Natalie Wood: What Remais Behind pode soar para muitos como um material "chapa branca" e tem sérias dificuldades para enfrentar o assunto mais delicado da biografia da atriz, a sua morte. É notório como o material tem receios em torno desse episódios e como se mostra desconfortável com o tópico, preferindo o apaziguamento de situações ou mesmo jogando holofotes nos sentimentos dos familiares. Com o envolvimento da família na produção esse resultado era mais do que esperado, portanto não espere encontrar no documentário respostas a quaisquer dúvidas já que o posicionamento dele é bem claro sobre isso e também não há nada de errado, o espectador jamais é enganado no que tange ao ponto de vista do filme.
O que Natalie Wood: What Remains Behind tem de mais positivo é o seu olhar para o legado profissional da atriz. Nesse sentido, esse tom mais partidário da produção traz um trabalho de pesquisa apurado que dá conta não apenas dos meandros de produções como Juventude Transviada, Clamor do Sexo e Amor Sublime Amor mas também o impacto das performances e da própria atuação de Natalie na indústria, ou seja, conseguem dimensionar o que especificamente conseguia conferir singularidade ao nome da atriz em Hollywood. Nesse sentido, o tom de ode à atriz acaba trazendo dados até interessantes sobre sua própria vida como os atritos com sua mãe e sua discordância com o esquema dos contratos de estúdio implementados em meados do século passado.
O filme não é uma obra-prima do cinema documentário, nem preza pela experimentação do formato, baseando sua narrativa em depoimentos e contando eventos em ordem cronológicas, mas é um ótimo registro para os fãs de Wood. Não há como buscar dados precisos e inéditos sobre a sua morte e é até estranho que um material que pretenda evitar sensacionalismos e concentrar boa parte do seu tempo na carreira de Wood tenha sustentado parte do seu chamariz nesse aspecto (dados como o título e até a maneira como o filme tem início indicam isso), mas, para quem busca conhecer à fundo o legado de Natalie, Bouzereau faz um trabalho correto e interessante de apuração relacionando obra e vida da sua biografada.
Natalie Wood: What Remains Behind, 2020. Dir.: Laurent Bouzereau. Documentário, 100 min.
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