Má Educação aborda o curioso caso do diretor de uma escola pública americana que acabou sendo pego envolvido em um escandaloso esquema de desvio de recursos públicos destinados à instituição. O caso foi descoberto por uma das alunas que trabalhava no jornal do colégio e depois virou um artigo para a New York Magazine. Na direção do longa está o jovem Cory Finley, que antes daqui só constava nos créditos do indie Puro-Sangue.
Os eventos narrados pelo filme e a apresentação dos seus personagens e suas dinâmicas pessoais são contados com um tom de ironia por Finley que se adequa ao teor absurdo do material. Má Educação se reveste das marcas dos filmes de conspiração política e ações escusas em gabinetes públicos por esquemas mirabolantes de personagens que sucumbem ao fascínio pelo poder e pelo dinheiro. A diferença é que o ambiente no qual toda ação ocorre é o mais insuspeito de todos, a escola.
No epicentro do filme está Hugh Jackman, excepcional como o diretor Frank Tassone, um sujeito de complexa leitura. O tom cínico conferido pelo ator beneficia a história, trazendo traços da trama que se sobrepõem, ocultados por um personagem que beira a sociopatia. Até o momento, o trabalho de Jackman nesse filme representa o ponto mais fora da curva da sua carreira permitindo que o ator se mostre multifacetado com uma figura que não transita entre pólos de uma estereotipia. Há em Tassone atos governados pela sua competência profissional, inteligência e compromisso com a educação, mas também pela sua ganância, vaidade e medos do julgamento público. É uma figura complexa e Jackman consegue dar consistência a todas as camadas dessa personagem: as que ele oculta, as que simula e as que apresenta publicamente.
Jackman ganha o suporte de um elenco de peso que está muito bem em cena. Cabe o destaque em primeiro lugar à sempre competente Allison Janney , que interpreta o braço direito de Frank e que por um movimento primorosamente bem calculado do seu roteiro acaba no primeiro ato tomando o protagonismo da autoria de todo o esquema, uma suspeita corroborada pela dissimulação inicial do personagem de Jackman comprada inclusive pelo público que a princípio duvida do mau caratismo de Tassone. A jovem Geraldine Viswanathan também tem ótimos momentos como a estudante responsável pela investigação do escândalo na escola.
Com um roteiro afiado e que entrega um material interessante para seus atores, Má Educação se transforma em um filme de crime bem curioso. O desempenho de Hugh Jackman aqui comprova sua versatilidade e seus extensos recursos dramáticos, todos executados com bastante fluidez e precisão por ele. É a típica narrativa sobre traços do ego que desvirtuam as boas ações iniciais do homem contada de forma interessante por seu realizador.
Bad Education, 2020. Dir.: Cory Finley. Roteiro: Mike Makowski. Elenco: Hugh Jackman, Allison Janney, Geraldine Viswanathan, Ray Romano, Rafael Casal, Alex Wolff, Annaleigh Ashford, Welker White. Na programação da HBO e no HBO GO, 108 min.
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