Mesmo sendo conhecido por seu trabalho com melodramas como Longe do Paraíso, Carol e a minissérie da HBO Mildred Pierce, Todd Haynes é um cineasta bastante versátil e que dentro dessa versatilidade consegue preservar o DNA das suas histórias. Ele já contou uma biografia nada convencional de Bob Dylan com Não estou lá, já contou uma história sobre a infância em Sem Fôlego e já trafegou pela paranoia distópica em Mal do Século. O Preço da Verdade: Dark Waters é sua incursão no thriller jurídico com a história de um advogado que assume uma causa contra a DuPont, acusado a empresa de destruir o ambiente e gerar uma série de danos à saúde de pessoas ao longo da popularidade do teflon na criação de produtos.
O caso do advogado Rob Billot contra a Dupont durou décadas e só encontrou resolução nos anos 2010. O caso em si é surpreendente sobretudo por tomarmos ciência como esse empreendimento de pesquisas químicas de ponta atingem diversas frentes da nossa vida. De certa maneira, Haynes traz para O Preço da Verdade a mesma lógica de construção atmosférica claustrofóbica de Mal do Século. O personagem de Mark Ruffalo gradualmente imagina a atuação imperceptível e destrutiva desse inimigo silencioso na rotina doméstica.
Mesmo encontrando como limitador um roteiro protocolar e genérico na construção do seu drama familiar e pragmático no tratamento dos meandros jurídicos do caso, Haynes consegue, com discrição e precisão cirúrgica, levar o longa para lugares insuspeitos. Isso ocorre, por exemplo, na maneira como o diretor utiliza a fotografia gélida dos arranhacéus dos escritórios de advocacia onde o caso é investigado - mais uma vez, uma excelente colaboração com Edward Lachman. Ao mesmo tempo, a paranoia é dimensionada pela dinâmica entre os atores, sobretudo quando a mesma tem no centro das atenções Mark Ruffalo em mais uma ótima interpretação em seu currículo.
O longa tem um claro apelo ao tom de denúncia e isso não lhe retira os méritos, pelo contrário, o engrandece. Em casos como esse, não tomar partido soa como negligente ao próprio propósito de contar uma trama tão grave como esta. O Preço da Verdade pode soar como algo deslocado na filmografia de Todd Haynes, mas acaba endossando os passos da sua carreira até aqui, um filme coeso, coerente com o seu gênero cinematográfico e capaz de ser contundente e preciso com a sua retórica.
Dark Waters, 2019. Dir.: Todd Haynes. Roteiro: Mario Correa e Matthew Michael Carnahan. Elenco: Mark Ruffalo, Anne Hathaway, Tim Robbins, Bill Camp, Bill Pullman, Victor Garber, Mare Winningham, William Jackson Harper, Louisa Krause. Paris Filmes, 126 min.
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