A partir de relatos do seu avô sobre a Primeira Guerra Mundial, o diretor Sam Mendes (vencedor do Oscar por Beleza Americana e realizador de 007: Operação Skyfall) dramatiza em 1917 a história de um jovem mensageiro que recebe junto com seu amigo uma missão. Eles devem atravessar todo o território inimigo para entregar uma mensagem a um grupo de colegas do batalhão.
O longa de Mendes é simples e objetivo enquanto obra, nada plot driven como categorizam os americanos, ou seja, uma obra que tem uma narrativa elaborada e que é a força-motriz do projeto. O que o diretor quer proporcionar para o espectador aqui é uma experiência no próprio cenário do seu filme.
1917 é, acima de tudo, um projeto para o próprio realizador exibir toda a maestria da sua direção cinematográfica, que conta com o suporte da magnífica fotografia de Roger Deakins, que, entre tantos momentos inspirados, concebe uma plasticamente irretocável sequência em ruinas. Mendes
oferece ao espectador uma completa imersão na experiência de horror da guerra. Simulando um plano-sequência, o diretor acompanha a trajetória dos seus jovens soldados em tempo real pelos passos da jovem revelação George McKay, recriando o cenário do conflito em toda a sua mise-en-scène com eventos que testam ininterruptamente os nervos. Ao mesmo tempo, o diretor não parece um tecnicista bitolado no seu próprio êxito cinematográfico e se aproxima dos seus personagens e humaniza as situações quando dedica tempo de projeção para seus protagonistas expressarem emocionalmente a assimilação de tudo o que vivem, algo que faltou a Dunkirk de Christopher Nolan, por exemplo.
Em 1917, o espectador consegue dimensionar o impacto da morte que não "prepara terreno" e toma de assalto seus protagonistas, o contato direto com o primitivo instinto de aniquilação da vida e até mesmo o apego (e alívio) às singelas manifestações do belo (a natureza, a música) e de afeto (a demonstração de carinho espontânea de uma criança). É o tipo de filme que nos faz perceber como a guerra jamais deve ser tratada como piada, mas sim como a pior das alternativas para a solução de qualquer conflito.
1917, 2019. Dir.: Sam Mendes. Roteiro: Sam Mendes e Krysty Wilson-Cairns. Elenco: George McKay, Dean-Charles Chapman, Richard Madden, Colin Firth, Benedict Cumberbatch, Daniel Mays, Pip Carter, Andy Apollo, Paul Tinto. Universal, 119 min.
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