Sabe aquela batida metáfora que associa a qualidade de algo com o vinho em decorrência do tempo? É clichê, mas nunca é demais afirmar que quanto mais o tempo passa, melhor diretor Clint Eastwood fica, e com filmes cada vez mais low profile, distantes do impacto público que longas como Sobre Meninos e Lobos ou Menina de Ouro tiveram, por exemplo. Tá certo que volta e meia nos deparamos com títulos como Sniper Americano e J. Edgar, mas é notável perceber que, aos 89 anos de idade, Eastwood ainda é capaz de presentear o público com obras como A Mula ou este O Caso Richard Jewell, filmes que preservam as marcas do seu cinema, mas ainda assim apresentam fôlego para exibir outras facetas do cineasta.
Baseado em eventos reais narrados em uma reportagem para a Vanity Fair, O Caso Richard Jewell conta a história de um segurança particular que durante um festival de música nas Olimpíadas de 1996 consegue conter um atentado terrorista. Logo depois, esse rapaz é apontado pela imprensa e por investigadores federais como o possível autor do atentado, levando-o a um julgamento público que transforma sua vida e testa suas convicções nas autoridades envolvidas durante a investigação.
O Caso Richard Jewell é marcado pela elegância habitual da narrativa de Eastwood. O diretor, mais uma vez, consegue exibir em cena uma economia de recursos que jamais significa frieza ou distanciamento dos acontecimentos, ao mesmo tempo em que sua inescapável vertente melodramática jamais apela para emoções forçadas, seja na relação que o público estabelece com aquelas personagens, seja na dinâmica entre elas.
Minimalista, Eastwood é daqueles cineastas que parecem deslocados no seu tempo de atuação, tornando o anacronismo de sua direção old school um componente ativo e em constante diálogo com os traços contemporâneos de sua história. Refletindo sobre o homem comum americano e o clássico imaginário do herói cotidiano que toma de assalto as headlines, Eastwood faz um complexo estudo de personagem ao lado do roteirista Billy Ray (de Capitão Phillips).
O Richard Jewell que dá título ao longa é a típica representação do americano médio conservador, crédulo nas instituições e na importância da aplicação do dever cívico no cotidiano, mesmo que isso implique prejuízos pessoais em razão da má fé daqueles que estão a frente das instituições. Ao longo do filme, Jewell sofre uma pressão sobre-humana da opinião pública, absorvendo todo tipo de raiva ou ressentimento, uma situação que proporciona tensões e embates com o seu experiente advogado interpretado por Sam Rockwell.
Ao longo da narrativa, é interessante observar a ótima dinâmica que Eastwood conseguiu entre seus atores, especialmente seu núcleo central formado pelo intérprete de Richard Jewell, o excelente Paul Walter Hauser, e sua mãe, vivida por Kathy Bates, personagens que logo ganham muito com a presença do provocador advogado interpretado por Sam Rockwell. Paul Walter Hauser é tão bom que o público sequer percebe que está atuando e Rockwell transforma sua relação com esse protagonista no mote central da sua história: o choque entre duas formas opostas de ler o mundo e as suas instituições.
O Richard Jewell que dá título ao longa é a típica representação do americano médio conservador, crédulo nas instituições e na importância da aplicação do dever cívico no cotidiano, mesmo que isso implique prejuízos pessoais em razão da má fé daqueles que estão a frente das instituições. Ao longo do filme, Jewell sofre uma pressão sobre-humana da opinião pública, absorvendo todo tipo de raiva ou ressentimento, uma situação que proporciona tensões e embates com o seu experiente advogado interpretado por Sam Rockwell.
Ao longo da narrativa, é interessante observar a ótima dinâmica que Eastwood conseguiu entre seus atores, especialmente seu núcleo central formado pelo intérprete de Richard Jewell, o excelente Paul Walter Hauser, e sua mãe, vivida por Kathy Bates, personagens que logo ganham muito com a presença do provocador advogado interpretado por Sam Rockwell. Paul Walter Hauser é tão bom que o público sequer percebe que está atuando e Rockwell transforma sua relação com esse protagonista no mote central da sua história: o choque entre duas formas opostas de ler o mundo e as suas instituições.
Há cadafalsos ao longo da história, e é preciso dizer que quando eles ocorrem são graves. Esses percalços são representados sobretudo pelos obstáculos que surgem no caminho do protagonista, uma dupla de vilões da pior espécie: o agente do governo interpretado por Jon Hamm e, principalmente, a jornalista vivida por Olivia Wilde, duas figuras construídas com tanta precariedade pelo roteiro de Billy Ray que parecem ter saído de outro filme. A personagem de Wilde é uma repórter sem escrúpulos do tipo que utiliza o sexo como moeda de troca para arrancar informações de uma fonte que tem acesso privilegiado, o policial abobalhado e desleixado com o próprio ofício interpretado por Hamm. Wilde perambula por todo o filme como uma vilã canastrona de novela mexicana com seu visual chamativo, suas caras e bocas que indicam perversidade e seu duvidoso código de ética.
Apesar do equívoco, O Caso Richard Jewell é um exemplar exitoso na carreira de Eastwood, com momentos de humanidade cortante e que exibem o domínio do diretor na arte do storytelling. O drama é primoroso na condução dos seus acontecimentos com um primeiro ato formidável na maneira como gradualmente apresenta suas situações e personagens ao público até chegar ao epicentro da sua história. Aquele início é fundamental para que Eastwood desenvolva o que vem a seguir.
Richard Jewell, 2019. Dir.: Clint Eastwood. Roteiro: Billy Ray. Elenco: Paul Walter Hauser, Sam Rockwell, Kathy Bates, Jon Hamm, Olivia Wilde, Ian Gomez, Wayne Duvall, Billy Slaughter, Mike Pniewski. Warner, 129 min.
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