Chegam ao Brasil, diretamente nos serviços de locação online os títulos Uma Mulher Americana, A Vida de Diane e Uma Guerra Pessoal. longas que chamaram a atenção entre 2018 e 2019 pelos desempenhos das suas três protagonistas, as atrizes Sienna Miller, Mary Kay Place e Rosamund Pike, respectivamente.
Sienna Miller em Uma Mulher Americana
Sienna Miller ficou conhecida do grande público em 2004, quando participou de Alfie: O Sedutor, longa protagonizado por Jude Law. Desde então, a atriz têm aparecido aqui e ali com algumas participações pontuais em filmes como Foxcatcher e Z: A Cidade Perdida, que a despeito de serem ótimos filmes, traziam desempenhos da atriz que a reduziam à esposa do protagonista. Desde Uma Garota Irresistível de 2006, no qual interpretou Edie Sedgwick, musa de Andy Warhol, a atriz não tinha um desempenho que saltasse aos olhos na tela como em Uma Mulher Americana, longa que marca o retorno de Jake Scott, filho de Ridley Scott, aos longas, algo que não fazia desde Os Saqueadores em 1999.
O filme tem como premissa a história de Debra, uma mulher inconsequente que, em certo ponto da história tem que amadurecer, entendendo quais são os alicerces que lhe trarão maior autonomia no mundo, a partir de um evento traumático: o desaparecimento súbito da sua filha adolescente. Uma Mulher Americana traz um olhar para uma família do subúrbio americano, marcada pela história de "produções independentes" precoces que se repetem. Debra se vê às voltas com a criação do neto e acaba tendo nessa experiência trágica a oportunidade de refazer alguns caminhos "tortos" da sua vida, ganhando uma maior independência da sua relação umbilical com sua mãe e irmã e compreendendo que não precisa constituir uma família tradicional para ter segurança emocional e dar a criação adequada à criança. É uma trajetória de amadurecimento sentida pelo público em uma trajetória de construção e reconstrução da protagonista modulada com muita precisão por Miller, servindo como uma espécie de portfólio para a atriz, que poderia ter mais oportunidades como esta.
Rosamund Pike em Uma Guerra Pessoal
Depois de ser indicada ao Oscar em 2015 por Garota Exemplar, enfrentando uma batalha injusta com o sentimento de dívida que a Academia tinha com Julianne Moore após quatro indicações e nenhuma vitória (a atriz venceu o prêmio de melhor atriz por Para Sempre Alice na ocasião), Rosamund Pike não teve mais picos em sua carreira. Por Uma Guerra Pessoal, a atriz chegou a ser indicada ao Globo de Ouro de melhor atriz na categoria drama, mas o filme acabou não ressoando tanto na temporada de premiações quanto podia. A produção é da atriz Charlize Theron, que tem se destacado pelo volume e qualidade do seu trabalho na área, e tem direção de Matthew Heineman, consagrado com documentários como Cartel Land (indicado ao Oscar) e City of Ghosts.
O longa é uma biografia da correspondente de guerra Marie Colvin, destacando sua atuação em campos de conflitos perigosos, como o da Siria. Colvin teve graves sequelas dos anos em que atuou como correspondente de guerra, físicas e psicológicas. A jornalista perdeu a visão de um olho e passou a sofrer crises de ansiedade e pânico que afetaram sua vida cotidiana, seus relacionamentos e sua relação consigo mesma. O filme é um retrato interessante sobre a personagem, dando conta da sua história pra aqueles que não a conheciam, e Pike consegue carregar com muita densidade o papel. O desempenho da atriz é marcado por uma aproximação com a linguagem corporal e com o tom da voz de Colvin, mas também dimensiona com intensidade toda a psicologia dessa personagem conforme ela vai sendo gradualmente consumida por seu trabalho nas trincheiras.
Mary Kay Place em A Vida de Diane
Mary Kay Place é daquelas veteranas que sempre estiveram na indústria, com participações em filmes conhecidos como Garota, Interrompida e Quero ser John Malkovich e que enfim ganha um papel de grande visibilidade com A Vida de Diane. O filme é dirigido e roteirizado por Kent Jones, que teve carreira destacada na crítica cinematográfica e passou para a direção de documentários com o apadrinhamento de Martin Scorsese, tendo conduzido Hitchcock/Truffaut e A Letter to Elia, ambos filmes sobre o cinema.
A Vida de Diane é a primeira ficção do cineasta e ele faz um estudo de personagem curioso que se preocupa com temas que giram em torno dos momentos finais de uma vida. Conforme chega na maturidade, a protagonista do longa se depara com amigos e familiares que morrem, problemas familiares que não se resolvem, reflexos pesados de atos inconsequentes da juventude... Esse cenário de confrontamento com o fim iminente, faz o longa ser um grande palco para o desempenho de Mary Kay Place, que na pele dessa protagonista realiza movimentos sutis de assimilação da realidade à sua volta. É um trabalho de pequenos gestos, observações e reações que a atriz conduz com naturalidade, sem sublinhar artificialismos de uma performance para a câmera e que tem como contraponto uma direção bastante presente de Jones, que procura soluções imprevistas no roteiro e intervém nesse solo da atriz na medida certa.
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