Baseado na popular série de TV dos anos de 1970, McG trouxe para os cinemas As Panteras, uma releitura com Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu, que interpretavam sagazes agentes à serviço de uma organização. O filme de 2000 rendeu uma sequência não tão exitosa em 2003 e era marcado por "abraçar" o teor absurdo da sua trama, dosando humor e ação em uma estética hiperbólica e desobediente a qualquer unidade plástica. Era compreensível que na colheita dos frutos da era #metoo e na efervescência da cooptação de uma ideia do feminismo pelos grandes estúdios (a ideia de empoderamento), As Panteras retornasse em algum momento às telas. Esse momento chegou com uma produção que tem Elizabeth Banks como diretora, roteirista e como uma das coadjuvantes mais importantes do longa.
As Panteras de 2019 tem Kristen Stewart, retornando aos filmes de grande orçamento após se reerguer das sequelas que a saga Crepúsculo trouxe para a sua credibilidade artística, Naomi Scott (a Jasmine de Aladdin) e a novata Ella Balinska. Juntas, as atrizes formam um trio interessante imersas em uma trama cujo modus operandi é mais do que batido, mas, como sempre, nesse caso, enredo é o que menos interessa. Stewart está confortável em cena com uma personagem debochada e cheia de despojamento, Balinska faz a linha dura e Scott talvez tenha o desempenho mais vacilante do trio, carecendo de timing cômico para uma figura que o tempo inteiro parece requerer isso da atriz.
Por sinal, a ausência de timing cômico é uma característica latente da produção, o que é uma absluta surpresa. O filme tem a assinatura de Banks, que, além de exímia comediante, realizou como diretora A Escolha Perfeita 2, um longa que não tem o menor compromisso com a seriedade. Em As Panteras, Banks parece intimidada com o material e nunca deixa o projeto alçar voos mais extremos no teor irreverente da sua trama de ação assumidamente rocambulesca. É como se o longa fosse marcado na maior parte da sua projeção por uma prudência exagerada. A todo tempo, o espectador sente que As Panteras está prestes a se assumir como "filme farofa", mas tem uma certa timidez nessa sua natureza seja por um anseio de afastar-se das "chaves" da adaptação anterior seja por um entendimento de que a seriedade talvez fosse o caminho mais coerente com a ideia de heroínas do cinema no seu tempo.
A sensação de potencial desperdiçado é ainda mais triste por constatar que a profissional por trás do projeto tinha plena capacidade de fazer algo muito mais divertido do que o derivativo blockbuster que As Panteras se torna no "frigir dos ovos". Quem sabe em uma continuação esses desajustes sejam reparados? Há muito mais acertos do que erros, mas fica evidente que a produção estaria muito mais bem servida com o non sense que Banks pode oferecer ao projeto.
Charlie's Angels, 2019. Dir.: Elizabeth Banks. Roteiro: Elizabeth Banks. Elenco: Kristen Stewart, Naomi Scott, Ella Balinska, Elizabeth Banks, Patrick Stewart, Noah Centineo, Sam Clafflin, Djimon Hounsou, Nat Faxon, Chris Pang. Sony, 118 min.
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