Segredos Oficiais narra o vazamento de informações do governo americano para o governo inglês que forjaram circunstâncias propícias para o apoio a guerra no Iraque em 2003 a fim de capturar o ditador Saddam Hussein. Na época, as informações foram fornecidas ao jornal The Observer por uma funcionária da agência de inteligência britânica que chegou a ser processada. O longa dirigido por Gavin Hood narra todo esse percurso da publicização de conversas e documentos que estavam sob a proteção de uma lei chamada por lá de "lei dos segredos oficiais", que inviabiliza o acesso público a informações por força do teor sigiloso delas.
Dando sequência a uma carreira marcada por filmes tão díspares como o trágico X-Men Origens: Wolverine, o premiado Infância Roubada e o competente Decisão de Risco, Segredos Oficiais é um longa que demonstra a adaptabilidade do diretor Gavin Hood às demandas da história. Com uma abordagem calculadamente pouco intrusiva, marcada pelo minimalismo e por deixar os eventos da trama estarem acima de experimentalismos de direção, o longa é um exemplar interessante na carreira do diretor com uma trama cerebral que envolve geopolítica e convoca temas como ética no serviço público e no jornalismo.
Por conta dessa cartela de interesses, em dado momento da trama, Segredos Oficiais passa a impressão de que seus personagens são movidos exclusivamente pelo senso de dever público, como se não tivessem nenhuma ranhura moral. Já vimos algo assim, e de maneira muito mais unidimensional em outros filmes. Aqui, essa proximidade com a documentação e concatenação de informações apresenta pontuais incômodos, trazendo à tona a superficialidade com a qual o longa trata alguns de seus personagens. A principal prejudicada talvez seja a figura central dessa trama de paranoias políticas, a funcionária pública interpretada por Keira Knightley. A despeito de possuir elementos na sua órbita que tornam suas escolhas complexas, como o fato de ser casada com um iraquiano, a atriz é prejudicada por um roteiro que não está interessado em desenvolver nenhum desses meandros de sua psiquê de forma mais exaustiva.
Todavia, esse distanciamento do humano ou essa economia de dramaticidade presente em Segredos Oficiais poderia ser encarada pela ótica das suas escolhas de abordagem narrativa. Segredos Oficiais se interessa mais pelos fatos do que pelos sujeitos, isso é claro desde o princípio. As pessoas envolvidas no escândalo são traços colaterais da sua história, reativos. É uma escolha mantida com obstinação e coerência pelo roteiro do filme, mas que, pontualmente, pode trazer à tona dificuldades para o espectador estabelecer laços com sua história.
Todavia, esse distanciamento do humano ou essa economia de dramaticidade presente em Segredos Oficiais poderia ser encarada pela ótica das suas escolhas de abordagem narrativa. Segredos Oficiais se interessa mais pelos fatos do que pelos sujeitos, isso é claro desde o princípio. As pessoas envolvidas no escândalo são traços colaterais da sua história, reativos. É uma escolha mantida com obstinação e coerência pelo roteiro do filme, mas que, pontualmente, pode trazer à tona dificuldades para o espectador estabelecer laços com sua história.
Todos esses problemas são sensíveis em Segredos Oficiais, mas estão longe de prejudicar por completo a obra, que desenvolve com elegância uma trama de temas urgentes de maneira contundente e responsável em tempos de superficialidade de discussões, inflexibilidades de escuta e, sobretudo, de mascaramento dos fatos por links de whatsapp. Ao trazer discussões sobre a importância do dever cívico em funções públicas e a manipulação da verdade para atender a interesses próprios, Segredos Oficiais tem mais méritos do que falhas.
Official Secrets, 2019. Dir.: Gavin Hood. Roteiro: Gavin Hood, Gregory Bernstein e Sara Bernstein. Elenco: Keira Knightley, Ralph Fiennes, Matt Smith, Matthew Goode, Rhys Ifans, Adam Bakri, Indira Varma, Jeremy Northam, Hattie Morahan. Diamond Filmes, 112 min.
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