A Música da Minha Vida tem uma interessante história a ser contada. Em pleno crescimento da xenofobia na Inglaterra do governo de Margaret Tatcher, uma onda conservadora toma de assalto a família de um jovem imigrante paquistanês chamado Javed. Em meio à crise, o rapaz tem sua vida revolucionada pela influência da música de Bruce Springsteen. O filme da queniana Gurinder Chadha acaba se tornando um musical com a clássica trajetória coming of age, mas também encontra espaço para abordar o choque cultural pela perspectiva dos imigrantes, algo bastante raro no cinema comercial.
Sob a "embalagem" da simpática comédia inglesa, A Música da Minha Vida tem a reverência ao legado de Bruce Springsteen apenas como um detalhe. O interesse da cineasta é mesmo na trajetória de Javed, inspirada nos relatos de um jovem que de fato existiu e que é mesmo fã de Springsteen e acompanhou o trabalho do músico durante muito tempo. Chadha constrói um filme com relacionamentos marcados por um senso de empatia que não os enquadra em estereótipos, lidando com temáticas difíceis que envolvem questões históricas e geopolíticas.
Assumindo a perspectiva de um rapaz que tem como conflito as divergências entre a cultura da sua família e as influências ocidentais na sua própria vivência longe da Ásia, Chadha desenvolve de maneira complexa os atritos desse rapaz, sobretudo quando o coloca frente a frente seus desejos com as expectativas do seu pai. A cineasta toma como coração do seu longa os atores Viveik Kalra e Kulvinder Ghir que exibem na tela uma relação entre pai e filho repleta de divergências, mas também de muito amor. A perspectiva da cineasta é semelhante àquela procurada em Doentes de Amor, longa de 2017, porém a história agora é ambientada na Inglaterra de 1987.
O longa de Chadha capta esse conflito cultural dos paquistaneses na Inglaterra de Tatcher, equilibrando bem o drama familiar com seu contexto histórico, como exibe na excelente cena em que, simultaneamente, a família do protagonista se depara com uma manifestação enquanto ele vai em busca de ingressos para o show de Springsteen. A maneira como o filme trafega entre política, sociedade e melodrama, mantendo sua jovialidade e sendo preciso no retrato do seu período, é um dos grandes méritos do trabalho de Chadha.
O longa de Chadha capta esse conflito cultural dos paquistaneses na Inglaterra de Tatcher, equilibrando bem o drama familiar com seu contexto histórico, como exibe na excelente cena em que, simultaneamente, a família do protagonista se depara com uma manifestação enquanto ele vai em busca de ingressos para o show de Springsteen. A maneira como o filme trafega entre política, sociedade e melodrama, mantendo sua jovialidade e sendo preciso no retrato do seu período, é um dos grandes méritos do trabalho de Chadha.
Alegre e sempre emotivo, A Música da Minha Vida é um filme que demanda a receptividade do espectador a histórias assumidamente sentimentais, mas não na expressão vulgar do adjetivo, e sim sua faceta mais honesta. Chadha faz um longa repleto de personagens adoráveis e com os quais facilmente nos identificamos. As canções de Bruce Springsteen ao longo da história são um bônus e preenchem de significado a jornada de amadurecimento do seu protagonista, no entanto, a força dessa espirituosa jornada está na singularidade da sua perspectiva.
Blinded by the Light, 2019. Dir.: Gurinder Chadha. Roteiro: Gurinder Chadha, Sarfraz Manzoor e Paul Mayeda Berges. Elenco: Viveik Kalra, Kulvinder Ghir, Hayley Atwell, Meera Ganatra, Aaron Phagura, Sean-Charles Chapman, Nikita Mehta, Nell Williams, Tara Divina. Warner, 118 min.
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