Ao longo de quase vinte anos de carreira, a atriz Keira Knightley se especializou em dramas de época, a maioria baseados em clássicos da literatura. A tendência na carreira da atriz começou com Orgulho e Preconceito iniciando uma trilogia com o diretor Joe Wright (Desejo e Reparação e Anna Karenina completam a lista) que segui filmes do mesmo gênero com outros cineastas. Consequências é mais um desses exemplares e vem a ser uma adaptação do romance de Rhidian Brook, que, por sinal, co-assina o roteiro da produção.
O filme de James Kent, o mesmo de Juventudes Roubadas e da série 11.22.63, conta a história de uma inglesa que vai morar com o marido na propriedade de um alemão tomada pelo governo britânico depois da Segunda Guerra. Na ocasião, algumas residências alemãs foram utilizadas para abrigar pessoas de alto cargo do lado vencedor da guerra. O romance aborda o contexto social da época, marcado por um preconceito generalizado com os alemães, estigmatizados pelo nazismo.
Essa questão é mostrada no longa a partir da relação entre os personagens de Knightley e Alexander Skarsgard. A princípio, a personagem de Knightley é casada com o integrante do exército britânico interpretado por Jason Clarke e acaba se apaixonando pelo antigo proprietário da mansão onde vai morar, papel de Alexander Skarsgard. Antes disso, porém, ela tem uma série de ideias pré-concebidas sobre ele, amplificadas pelo trauma que a morte do filho durante a guerra lhe lega, mas que vão sendo dissolvidas ao longo da história. No fim das contas é uma espécie de Orgulho e Preconceito à reversa em outro contexto histórico.
O casal Knightley e Skarsgard poderia ser a escalação perfeita, mas a dupla não tem muita química em cena e não conseguem criar uma relação mais intensa entre seus personagens. O diretor parece evocar uma sensualidade e intensidade de sentimentos em seus atores que não consegue ser percebida em cena. As tensões do pós-guerra e a atmosfera velada entre ingleses e alemães na produção passa por um certo filtro por Kent, que atenua os conflitos e sua violência. Para completar, o desfecho do longa é moralista e a trama se perde em subtramas como o relacionamento entre a filha do personagem de Skarsgard com um rapaz que jamais mostram sua relevância para a história central.
Consequências é uma produção caprichada, mas cria complicações para si pela falta de química do casal principal e pela filtragem que faz das tensões sociais que convoca (psicológicas e físicas). Nas mãos de um cineasta mais atento à fidelidade histórica e menos preocupado com classificações indicativas e pasteurizações, certamente renderia um filme mais adulto na exposição do seu principal conflito e como ele reverberou nas relações estabelecidas entre a protagonista e os personagens de Skarsgard e Clarke, talvez até trouxessem um pouco mais de vibração para esses relacionamentos que soam mortos e artificiais na tela. O encanto das produções de época estreladas por Knightley parece não se aplicar aqui e nem é culpa da atriz, óbvio. Consequências é uma produção visualmente aplicada, mas com percalços no tratamento do seu romance, do seu contexto histórico etc. .
The Aftermath, 2019. Dir.: James Kent. Roteiro: Rhidian Brook, Joe Shrapnel e Anna Whaterhouse. Elenco: Keira Knightley, Alexander Skarsgard, Jason Clarke, Flora Thiemann, Kate Phillips, Martin Compston, Jannik Schumann. Disponível no Net Now, 108 min.
Assista ao trailer:
COMENTÁRIOS