Como forma de aplacar alguns fantasmas pessoais, o fotógrafo Mark Hogancamp faz o que muitos artistas fazem, utiliza a sua própria arte para assimilar eventos traumáticos da sua vida. Hogancamp criou uma cidade fictícia habitada por bonecos que o remetem a pessoas que conhece, principalmente as mulheres. Mark foi agredido por um grupo neo-nazista depois que descobrem que ele eventualmente usa sapatos de salto alto.
Inspirado pela história de vida do artista, Robert Zemeckis realiza Bem-Vindos a Marwen, seu mais recente filme. O cineasta lembrado por Forrest Gump e De Volta para o Futuro parece não estar na fase mais inspirada da sua carreira, entretanto. Se A Travessia era um filme repleto de méritos, mas acabou sendo esquecido nas bilheterias e na temporada de prêmios, Bem-Vindos a Marwen, que teve uma repercussão igualmente problemática, não consegue se sustentar narrativamente.
Como parte da filmografia de Zemeckis, o filme tem grandes méritos técnicos, concebendo com esmero visual o universo das bonecas do protagonista, que sempre parece buscar um diálogo com aquilo que acontece de fato na vida do seu personagem. O filme faz um excelente uso da captura de movimentos e torna os detalhes das personagens de plástico bem próximo da realidade em detalhes, texturas etc.
Bem-Vindos a Marwen parece ter dificuldade mesmo no seu departamento narrativo. O roteiro da produção não consegue fazer um diálogo fluido entre a ficção criada por Mark e a realidade que ele vive, deixando alguns aspectos da psicologia do seu personagem à cargo de um subtexto quando eles precisariam ser melhor esmiuçados, principalmente por se tratar de um filme que propõe um arco de transformação pós-trauma.
Bem-Vindos a Marwen parece exibir algo que os longas anteriores de Robert Zemeckis não tinha. Por mais que títulos como Forest Gump, A Travessia, De Volta para o Futuro, A Morte lhe cai bem e A Lenda de Beowulf tivessem uma ambição tecnológica, intentando levar o departamento técnico do cinema para outros lugares, nunca dependeram exclusivamente disso. Bem-Vindos a Marwen convoca no espectador uma empatia com seu protagonista que jamais é alcançada, sobretudo porque sua trama não consegue construir uma jornada consistente e clara para seu personagem principal.
Welcome to Marwen, 2018. Dir.: Robert Zemeckis. Roteiro: Robert Zemeckis e Caroline Thompson. Elenco: Steve Carell, Leslie Mann, Gwendoline Christie, Janelle Monáe, Eiza González, Merritt Wever, Diane Kruger, Stefanie von Pfetten, Neil Jackson, Leslie Zemeckis. Disponível em DVD e no Net Now, 116 min.
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