Amor à Queima Roupa foi o primeiro roteiro de Quentin Tarantino que não foi dirigido pelo realizador que sucedeu seu sucesso em Cães de Aluguel. No entanto, apesar da direção de Tony Scott (e até mesmo por conta dela), fica claro desde a primeira cena da produção que a mistura de romance e filme criminal é uma autêntica cria de Quentin Tarantino.
O filme acompanha a história de um jovem atendente de uma loja de quadrinhos vivido por Christian Slater que se apaixona por uma garota de programa contratada pelo seu chefe para ter uma noite especial com ele no dia do seu aniversário. Os dois acabam se casando e ao saber da relação dela com seu cafetão, o rapaz resolve se vingar pelos maus tratos sofrido pela amada matando-o. Ele acaba descobrindo no apartamento do criminoso uma mala cheia de drogas e resolve fugir com a esposa a fim de vender a mercadoria e ter uma vida confortável bem longe dos EUA.
Quando nos apresenta seu "herói" cheio de repertório da cultura pop, sempre mencionando programas de TV, filmes e quadrinhos em seus diálogos e que tem Elvis Presley como seu principal mentor durante a sua jornada, Amor à Queima Roupa deixa claro seu DNA. O longa é repleto de cenas com conversas que versam sobre esses assuntos, estabelecendo de alguma forma uma irônica relação com aspectos do universo em que seu personagem está inserido - o principal comprador da mercadoria do personagem de Slater, por exemplo, é um produtor de cinema, seu melhor amigo é um ator e ele e a esposa interpretada por Patricia Arquette fogem para Hollywood.
A ironia do roteiro de Tarantino também está presente em outros momentos, como na deliciosa cena protagonizada por Dennis Hooper e Christopher Walken, impecável como um curioso chefe do crime italiano, ou na aparição de Brad Pitt como o folgado colega de quarto do melhor amigo do protagonista do longa. Amor à Queima Roupa ainda é dosado por litros de violência representados pelo embate cru protagonizado por Arquette e pelo capanga interpretado por James Gandolfini ou pelo duelo final que traz a polícia, a máfia italiana e o underworld hollywoodiano transformando a suíte de um hotel num verdadeiro cenário de faroeste.
Esses traços do universo de Tarantino ficam mais salientes porque é característico de Tony Scott como realizador se adaptar às demandas do roteiro que dirige, nunca fazendo intervenções muito drásticas nos caminhos da sua trama com movimentos de câmera ou uma estética mais sobressalente. Nesse sentido, talvez falte à produção o dedo de Tarantino como realizador, possivelmente encorpando ainda mais uma história com sua personalidade num roteiro que não faz questão alguma de negar a sua origem. Com uma interpretação arrebatadora de Patricia Arquette como a doce e esperta Alabama Whitman, Amor à Queima Roupa acaba sendo um entretenimento de primeira.
True Romance, 1993. Dir.: Tony Scott. Roteiro: Quentin Tarantino. Elenco: Christian Slater, Patricia Arquette, Dennis Hopper, Gary Oldman, Christopher Walken, Brad Pitt, James Gandolfini, Bronson Pinchot, Michael Rapaport, Chris Penn, Saul Rubinek. 119 min.
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