Com baixíssimas expectativas do público e um relativo atraso após constantes adiamentos da estreia em virtude de refilmagens, X-Men: Fênix Negra finalmente chega aos cinemas. O primeiro filme da franquia dos mutantes da Marvel dirigido pelo produtor Simon Kinberg teve a infelicidade de ser contemporâneo da venda do seu estúdio, a Fox, para a Disney, que abriga há anos a Marvel Studios. Remanescente da cessão de direitos de personagens da editora a outros estúdios, os X-Men estão na Fox desde 2000 com X-Men de Bryan Singer e por isso nunca entraram no mega projeto Vingadores.
É uma pena que o frenesi em torno dos feitos da Marvel Studios - merecido, não há como negar - faça o público atual desmerecer tanto o trabalho da Fox com os X-Men, vendo essa aquisição da empresa pela Disney como um indício de que enfim os mutantes do professor Charles Xavier terão um tratamento mais digno. A indagação que fica é: Desde quando eles não tiveram? Mesmo com exemplares como X-Men: Apocalipse e X-Men: O Confronto Final no currículo, a Fox sempre entregou excelentes filmes da franquia com momentos mais marcantes inclusive que parte majoritária do catálogo da Marvel Studios.
O "oba-oba" em torno do projeto Vingadores dá a impressão de que nada antes ou depois de Homem de Ferro existiu e que somente a Marvel Studios produziu o que há de melhor no gênero. Injustiça pois filmes como X-Men 2, X-Men: Primeira Classe e X-Men: Dias de um Futuro Esquecido superam e muito alguns títulos badalados da atual e banalizada geração de super-heróis no cinema. X-Men: Fênix Negra não chega a ser o melhor capítulo dessa história, mas encerra com relativa dignidade esse ciclo, passando longe da "vergonha" que foi o último longa da franquia X-Men: Apocalipse.
Com ação moderada, Kinberg faz um filme de ação correto que preserva a temática central dos mutantes, centrando seus esforços na transformação de Jean Grey em Fênix Negra após uma complicada ação do grupo de super-heróis no espaço. A trama é uma forma do filme explorar os efeitos negativos de uma natureza reprimida já que Xavier contém alguns poderes de Jean quando ainda era criança e a mutante só consegue liberá-los e ser quem de fato é quando tomada pela entidade da Fênix Negra. O longa constrói de maneira eficiente esse arco, movendo cada um dos seus personagens nessa trama central, incluindo a própria Jean e uma vilã interpretada por Jessica Chastain que acaba sendo funcional para a história.
Não há sobressaltos de criatividade com a construção de cenas memoráveis como a entrada de Noturno na Casa Branca em X-Men 2 ou o atentado contido pelos X-Men em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, mas também não há os excessos visuais e a ação dispersa e exagerada de X-Men: Apocalipse fica para trás. X-Men: Fênix Negra talvez não tenha a magnitude que a saga original nos quadrinhos demandava, mas como encerramento de uma fase dos super-heróis nos cinemas faz tudo o que deve fazer de maneira correta, não passando o vexame que os fãs mais alarmados previram quando souberam que o longa passaria por refilmagens e teria sua estreia nos cinemas adiada por um ano. No final das contas, nem "doeu" tanto.
Dark Phoenix, 2019. Dir.: Simon Kinberg. Roteiro: Simon Kinberg. Elenco: Sophie Turner, James McAvoy, Jessica Chastain, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Tye Sheridan, Alexandra Shipp, Evan Peters, Kodi Smit-McPhee, Scott Shepherd, Ato Essandoh. Fox, 113 min.
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