Mais recente empreitada da cineasta Ava DuVernay, a minissérie Olhos que Condenam narra um impactante caso midiático que choca os EUA até hoje. No final dos anos de 1980, um grupo de cinco jovens negros foram acusados de estuprar uma mulher branca a partir de depoimentos induzidos pela polícia. Na ocasião, diversos casos de estupro tomaram conta do país e as autoridades precisavam solucionar o crime como forma de acalmar a opinião pública. Nos anos 2000, foi revelado aquilo que a maioria das pessoas sabiam: o grupo de rapazes em questão era inocente do crime pelo qual acabaram sentenciados.
DuVernay faz uma obra provocadora e solidária com a dor de seus personagens. Olhos que Condenam tem um discurso socialmente implicado que se revela pertinente em tempos de condenação sumária das redes sociais. Não é difícl imaginar um caso como o da minissérie ocorrendo hoje, não mesmo. Com duas questões sociais como combustíveis (misoginia e racismo), o cenário de julgamentos precipitados de casos como esse é praticamente resultado lógico de canais como Twitter e Facebook, mas não é algo eminentemente de uma era tecnológica, como a minissérie demonstra. É uma faceta perigosa da humanidade.
O conteúdo da minissérie é inflamável e a diretora sabe conduzi-lo especialmente quando se torna uma narrativa sobre os bastidores do julgamento. Infelizmente, Olhos que Condenam perde um pouco de fôlego nos dois últimos episódios ao centrar seus esforços nas consequências da condenação, individualizando a jornada dos rapazes após o julgamento com seus dramas pessoais, algo que tem a sua importância para a história, mas que demonstra uma queda de fôlego na produção.
DuVernay tem um ótimo elenco de novatos e veteranos em suas mãos (Felicity Huffman, Vera Farmiga, John Leguizamo, Aunjanue Ellis, Famke Jamsen, Niecy Nash, Michael Kenneth Williams) e a série acaba rendendo momentos de grandes nuances no desenvolvimento de todos os seus personagens. Talvez fosse melhor um formato mais enxuto (um longa, por exemplo), mas o percurso da diretora ocasionalmente justifica suas escolhas, como o longo processo de julgamento do caso ou a atenção que ela dá a Korey Wise (o ótimo Jharrel Jerome), único dos envolvidos que não foi para uma instituição de detenção dedicada a menores de idade. Apesar dos percalços nos episódios finais, Olhos que Condenam tem uma grande relevância e o olhar da sua realizadora para o caso narrado faz a diferença até mesmo nos seus momentos menos inspirados.
When they see us, 2019. Dir.: Ava DuVernay. Roteiro: AvaDuVernay, Julian Breece, Robin Swicord, Attica Locke e Michael Starburry. Elenco: Jharrel Jerome, Asante Blackk, Caleel Harris, Ethan Herisse, Marquis Rodriguez, Jovan Adepo, Chris Chalk, Justin Cunningham, Freddy Miyares, Felicity Huffman, John Leguizamo, Vera Farmiga, Famke Jansen, Aunjanue Ellis, Niecy Nash, Michael Kenneth Williams. Disponível na Netflix, minissérie em 4 episódios.
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