Kings: Los Angeles em Chamas foi a estreia americana da diretora turca Deniz Gamze Ergüven, a mesma que foi indicada ao Oscar de melhor longa em língua estrangeira por Cinco Graças. Após uma turbulenta passagem por festivais, o destino do projeto acabou incerto e sua distribuição não foi das melhores. Ergüven conta a história de uma família que vivenciou o estado de caos nas ruas de Los Angeles quando a comunidade negra ficou revoltada com a absolvição dos policiais acusados de agredir covardemente um homem negro, o notório caso de Rodney King que ganhou grande repercussão na mesma ocasião do julgamento de O.J. Simpson em 1991.
Sustentando-se nesse contexto histórico, Ergüven faz um filme bagunçado, cujos dramas e personagens jamais assumem consistência alguma apesar de estarem envolvidos no centro do conflito. Encabeçando o drama está Millie, personagem de Halle Berry, uma mãe adotiva que se vê desesperada com o paradeiro dos filhos durante o estado de insegurança que toma conta das suas de Los Angeles após o caso Rodney King. Ela acaba contando com a ajuda de um vizinho interpretado por Daniel Craig e em meio a turbulência eles acabam se envolvendo.
O longa tem dificuldade para tornar clara a sucessão de ações que seus personagens se envolvem, adotando uma posição confusa sobre sua história como se o espectador soubesse de antemão quem são aquelas figuras, suas aspirações e motivações. Dividindo-se entre o núcleo da personagem de Berry e um grupo de jovens, o longa não consegue tecer relações orgânicas entre as personagens, adotando uma edição que sequer parece ter compreensão de que história pretende contar. Mais inconsistente ainda é a presença do personagem de Daniel Craig, que acaba assumindo uma posição fundamental na jornada dessa família, mas sequer tem um desenvolvimento satisfatório na história.
No fim das contas, Ergüven parece ter levado a sério a premissa caótica do contexto de sua história pois, em meio à desordem urbana, o que mais se vê em Kings: Los Angeles em Chamas são personagens gritando uns com os outros aleatoriamente. O caos levado ao pé da letra deixa de lado a construção humana de uma história que não apresenta conexão alguma com o espectador. A sensação é que faltam partes nessa história e o que nos é apresentado é somente o caos pelo caos, deixando uma grande interrogação a respeito do que especificamente Ergüven queria tratar ao trazer esse mosaico de personagens vivenciando as sequelas desse evento histórico.
Kings, 2018. Dir.: Deniz Gamze Ergüven. Roteiro: Deniz Gamze Ergüven. Elenco: Halle Berry, Daniel Craig, Lamar Johnson, Rachel Hilson, Issac Ryan Brown, Callan Farris, Serenity Reign Brown, Reece Cody. Disponível no Net Now, 92 min.
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