Amanda é o tipo de obra que costuma ser chamada de "pequeno grande filme". O longa de Mikhaël Hers (de Aquele Sentimento do Verão) chegou como quem não quer nada, discreto, no circuito e demonstra uma potência maior do que muito título badalado em cartaz. Gerenciando arcos de amadurecimento dos seus personagens num drama familiar, o filme aborda com muita delicadeza e simplicidade a dificuldade de superar o luto e como esse processo é possível principalmente se for compartilhado.
Ambientado numa Europa contemporânea afetada pelas tensões sociais e políticas do terrorismo, Amanda se preocupa com os efeitos em primeira instância da violência, humanizando a tragédia a partir da ótica de uma família. O filme de Hers é protagonizado por um núcleo familiar comum que, como qualquer outro, tem uma história marcada por algumas cicatrizes pessoais. Os irmãos Sandrine e David foram criados pelo pai após a mãe sair de casa para viver em Londres com uma nova família. David e Sandrine crescem com as mágoas e cicatrizes do abandono, mas seguem bastante unidos mesmo depois da morte do pai. Ambos são testados mais uma vez quando outra morte os afeta, um acontecimento que também coloca o futuro da pequena Amanda, a filha de Sandrine, em jogo.
Quando Amanda utiliza seu cenário social, sabe fazê-lo de maneira precisa. Acertadamente, Amanda se interessa mais pelas relações humanas. É um filme cujo estopim são questões geopolíticas, mas procura compreender os efeitos da mesma indo no âmago da questão, ou seja, procura através das vítimas buscar alguma espécie de empatia no espectador. E funciona. Desde o primeiro instante o filme de Hers se mostra caloroso, cheio de ternura sem precisar transbordar "açúcar" pelas beiradas.
A preocupação central do roteiro bem polido de Hers e Maud Ameline é com seus personagens e como eles enfrentam o luto. Fica claro que para todos os envolvidos é um momento difícil, mas também de fortalecimento de laços e amadurecimento. Com isso, as interpretações ganham realce, sobretudo Vincent Lacoste, que pouco a pouco dilui o seu ar blasé no esforço hercúleo de simplesmente atender ao dever de urgência que o destino lhe impõe, e a encantadora Isaurie Multrier, um doce de criança exibindo muita sensibilidade em cena.
O filme de Hers é repleto de momentos de simplicidade que assumem a grandeza de significado por não intentarem ser grandiloquentes. O filme se contenta com a amplitude dos sentimentos e relações humanas que são testadas e desenvolve arcos de superação e intensificação de sensibilidades entre seus personagens.
Amanda, 2018. Dir.: Mikhaël Hers. Roteiro: Mikhaël Hers e Maud Ameline. Elenco: Vincent Lacoste, Isaurie Multrier, Stacy Martin, Ophélia Kolb, Marianne Basler, Jonathan Coen, Nabiha Akkari, Greta Scacchi, Claire Tran. Imovision, 107 min.
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