Desde o princípio, Ma parece o veículo certo para a atriz Octavia Spencer, que, não à toa, produziu o longa. Spencer que já ganhou o Oscar uma vez (Histórias Cruzadas, melhor atriz coadjuvante) e foi indicada outras duas (Estrelas Além do Tempo e A Forma da Água) interpreta nesse filme uma assistente de pet shop que se torna popular entre adolescentes da sua região por ser anfitriã de algumas festas da turma no porão da sua casa. Logo, a personagem revela propósitos sombrios, tornando sua aproximação com o grupo de jovens bastante perigosa para eles.
A protagonista de Ma é uma escolha certeira para esse momento da carreira da atriz pois apesar de ser bastante carismática e popular, Spencer parece sempre surgir na tela como a variação de uma mesma personagem em contextos diferentes. Analisando a filmografia dela, Ma representa um dos maiores "pontos fora da curva" na sua carreira. Assim, era natural que Octavia movesse esforços para viabilizar o projeto.
É uma pena que o resultado não tenha sido dos melhores. Ma anuncia uma trama rocambolesca do tipo que parece não ter vergonha do seu caráter absurdo, novelesco e creepy. Sue Ann, a protagonista interpretada por Spencer, parece saída do enredo mais barato de uma soap opera das mais deliciosamente canastronas, com direito a tramas de vingança e revelações sórdidas sobre sua natureza. No entanto, o projeto parece não entender essa veia absurda da personagem.
Por amizade, Spencer chamou Tate Taylor para conduzir Ma e a escolha não poderia ser mais equivocada. Diretor conhecido por ter alavancado a carreira da atriz em Histórias Cruzadas, Taylor sempre mostrou uma direção "quadradona" e a inadequação a histórias que exijam mais personalidade da sua condução se confirma em Ma, tendo como antecedente ainda o irregular A Garota do Trem. Taylor não parece entender o absurdo inerente ao filme que conduz e não explora o humor potencial do material, deixando a condução da história burocrática e não explorando a própria Spencer como uma personagem diabólica.
Ma ainda é falho na condução da sua narrativa. Se perdendo num terceiro ato anticlimático e que não amarra pontas soltas da sua história (como a relação mal resolvida entre a personagem de Spencer e sua filha), o filme é marcado pela perda de oportunidades. Octavia Spencer se esforça e é bom vê-la fazer algo extremamente diferente, mas tudo é muito equivocado, pálido e visualmente pouco inspirado. Um desperdício.
Ma, 2019. Dir.: Tate Taylor. Roteiro: Scotty Landes. Elenco: Octavia Spencer, Diana Silvers, Juliette Lewis, Luke Evans, Allison Janney, McKaley Miller, Corey Fogelmanis, Gianni Paolo, Dante Brown, Tanyell Wavers, Dominic Burgess. Universal, 99 min.
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