O Mötley Crüe foi uma banda de sucesso no cenário do rock da década de 1980. Formada por Nikki Sixx, Tommy Lee, Vince Neil e Mick Mars, o grupo atuou até 2015 e ganhou uma biografia escrita pelos próprios integrantes que, por sua vez, rendeu o roteiro de um filme produzida pela Netflix. The Dirt: Confissões do Mötley Crüe é uma síntese daquilo que a própria banda representou na sua época: música ruim, muito dinheiro e uma avalanche de atitudes inconsequentes acompanhadas pela mídia.
Não é por seguir o mesmo caminho da banda que o longa de Jeff Tremaine resulte em um trabalho competente, pelo contrário, ao assumir a falta de substância da biografia da banda como uma espécie de tom para a obra, The Dirt acaba perdendo a espontaneidade no despojamento que pretende marcar sua narrativa. O resultado é um filme que tenta parecer cool, mas que acaba sendo um esforço constrangedor de firmar-se no gênero como um ponto fora da curva e autoconsciente da própria irrelevância de sua história.
The Dirt: Confissões do Mötley Crüe aborda aspectos da biografia dos membros do Mötley Crüe até atingirem o sucesso e verem a carreira ameaçada pela má administração da fama, reduzindo suas vidas ao consumo ilimitado de drogas, sexo e muitas excentricidades relatadas em tablóides. O filme opta pela irreverência como chave de comunicação com o espectador, o que demonstra uma consciência do diretor com o material que tem em mãos, evitando a seriedade das biografias musicais convencionais e optando por frisar o vazio das próprias desventuras do Mötley Crüe, uma geração de roqueiros cuja rebeldia não fazia parte de um movimento artístico ou político como ocorria em décadas anteriores, mas que se baseava numa "inconsequência pela inconsequência".
O problema é que Tremaine cria um filme artificial e não sabe ir a fundo na autoconsciência e na ironia em torno dos eventos da banda, pendendo muitas vezes para um drama fácil que seu elenco canastrão não consegue sustentar. Acompanhar os atores Douglas Booth, cujo personagem tem problemas com a heroína, ou Daniel Webber, que passa por um sério drama familiar no terceiro ato, é uma experiência constrangedora como espectador. Nesse sentido, o projeto passa a ser uma grande contradição no formato de longa-metragem: quer a irreverência ou ir à fundo nos dramas dos seus biografados?
Sem direcionamento claro, The Dirt: Confissões do Mötley Crüe acaba sendo um filme que oscila de personalidade. Oco como a história da própria banda, o filme não aposta fundo no ridículo dos seus eventos e quando o faz é de maneira precária e imatura. Pior ainda é quando ele pende para o melodrama, daí fica quase impossível para o espectador extrair algum saldo preciso sobre a experiência.
The Dirt, 2019. Dir.: Jeff Tremaine. Roteiro: Amanda Adelson. Elenco: Douglas Booth, Daniel Webber, Iwan Rheon, Machine Gun Kelly, Kathryn Morris, Trace Masters, Tony Cavalero, Rebekah Graf. Netflix, 107 min.
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