Os centros de conversão da homossexualidade vinculados a igreja evangélica estão em voga na ficção cinematográfica com Boy Erased: Uma Verdade Anulada e também com O Mau Exemplo de Cameron Post, sensação do Festival de Sundance que chega para o público brasileiro aos cinemas, um destino bem diferente do filme de Joel Edgerton. O longa de Desiree Akhavan tem um sensível tom de denúncia sobre sua causa e não merece a alcunha de "polêmico" por abordar a política desses lugares preparados para a "cura gay", mas sim de alerta sobre uma prática criminosa desconhecida da maior parte da sociedade e que causa danos severos a suas vítimas.
Baseado no livro homônimo de Emily M. Danforth, O Mau Exemplo de Cameron Post conta a história de uma adolescente mandada para esse lugar após ser descoberta aos beijos com uma colega de escola por sua avó. No centro, Cameron entra em contato com um grupo de jovens que como ela sofrem o conflito pela recriminação da homossexualidade no seio da igreja, instituição que exerce forte influência sobre suas respectivas famílias. É então que Cameron conhece Jane Fonda e Adam, jovens que se tornam seus amigos e a ajudam a sobreviver no local.
O filme de Desiree Akhavan é conciso, tocando de maneira direta, mas não sucinta a ponto de deixar de explorar a complexidade do tema. Akhavan também não envolve sua produção de intervenções na câmera ou exibicionismos estéticos, deixando claro desde o primeiro instante que sua jornada é psicológica, centrando suas atenções na trajetória da sua protagonista, que, ao longo do filme amadurece e fortalece sua compreensão de si.
A diretora e co-roteirista do filme conta com um excelente elenco a começar por Chloë Grace Moretz, que, sem dúvida, tem o melhor desempenho da sua carreira. Moretz constrói Cameron Post como uma adolescente segura da sua condição, alguém que tem inseguranças mas que se fortalece através da sua passagem pelo centro, onde se depara com inúmeras histórias parecidas com as suas e com diferentes formas de lidar com a sexualidade, da repressão, negação e punição à completa aceitação e naturalidade com a questão. O desempenho de Moretz funciona pela chave da observação, fazendo a personagem se formar com a costura da sua própria experiência mas também através da percepção que tem dos demais personagens. Há outras interpretações que cabem destaque como Jennifer Ehle, que dá vida à coordenadora do centro, e a jovem Emily Skeggs, intérprete da colega de quarto de Post.
Reforçando gradualmente seu caráter de denúncia sem soar imaturo ou artificial como militância, O Mau Exemplo de Cameron Post é um retrato preciso sobre o preconceito, que, na maior parte das vezes, não incorpora ares diabólicos de personagem de desenho animado ou telenovela mexicana, mas sim de uma cultura que injeta gradualmente na sociedade uma rejeição ao "diferente". Assim, sem maniqueísmos, o longa de Akhavan trata da homofobia externa e interna como questões complexas que escapam da superficialidade com a qual costumam ser tratadas, tomando-as, por esse motivo, como questões difíceis de serem expelidas. Daí a importância de filmes como esse, que, além de tudo, é muito bem concebido como narrativa e relato íntimo.
The Miseducation of Cameron Post, 2018. Dir.: Desiree Akhavan. Roteiro: Desiree Akhavan e Cecilia Frugiule. Elenco: Chloë Grace Moretz, Sasha Lane, Emily Skeggs, John Gallagher Jr., Jennifer Ehle, Emily Skeggs, Quinn Shephard, Melanie Ehrlich, Owen Campbell, Christopher Dylan White. Pandora Filmes, 91 min.
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