Na sua estreia como diretor e roteirista, Paul Dano exibe a destreza e sensibilidade narrativa de um veterano. Vida Selvagem, longa que marca o seu debut nas funções, é baseado no romance de Richard Ford e conta a história dos Brinson, uma família de classe média dos anos de 1960, pela ótica do único filho do casal Jerry e Jeanette, o adolescente de 14 anos Joe. Joe vê seu pai perder o emprego e deixar a família para se aventurar na contenção de incêndios florestais. Ao mesmo tempo, o rapaz presencia sua mãe perder o chão e repensar o direcionamento da sua própria vida.
Vida Selvagem é um filme sobre jovens adultos que se tornam pais e, consequentemente, assumem responsabilidades muito cedo, quando sequer têm noção daquilo que querem para as suas próprias vidas. O resultado disso é arrependimento, culpa (afinal o futuro de um filho está em questão), seguido de fissuras familiares difíceis de reverter. O filme acompanha a crise de identidade de Jeanette e Jerry, enquanto tentam se fazer maduros e responsáveis o suficiente para criar Joe. O resultado é no mínimo desastroso e lega consequências drásticas para o rapaz, entre elas a percepção de um quadro familiar desajustado e o desejo jamais concretizado de um modelo ideal de lar.
Com o auxílio da esposa Zoe Kazan, que já assumiu a função antes em Ruby Sparks: A Namorada Perfeita, Dano desenvolve um roteiro que apresenta sua situação dramática gradualmente para o espectador e preserva a perspectiva dos eventos, a de um rapaz de 14 anos. Assim, muito do que é mostrado sobre Jerry e Jeanette é pela ótica daquilo que ambos deixam ser expostos ao filho e daquilo que Joe capta pelo acaso.Ao mesmo tempo, o filme acaba se tornando uma jornada de amadurecimento do garoto, que cresce visivelmente com a crise dos pais, talvez, não repetindo a biografia deles na sua própria história de vida.
A direção acompanha esses comandos do roteiro com uma câmera que intervém muito pouco na história com exibicionismos estéticos, deixando que a performance do seu elenco e a simplicidade e riqueza daquilo que é dito e do que é subentendido nos seus diálogos e ações falem mais ao espectador. Nesse âmbito, as interpretações de Jake Gyllenhaal e, principalmente, de Carey Mulligan, cuja personagem fica na maior parte do tempo na companhia de Joe, vivido pelo jovem Ed Oxenbould, tem grande destaque no drama. É um filme que privilegia as relações humanas com a honestidade e sensibilidade com que precisam ser tratadas. O que interessa é a jornada emocional de cada um desses personagens e Dano consegue traçá-las muito bem.
Wildlife, 2018. Dir.: Paul Dano. Roteiro: Paul Dano e Zoe Kazan. Elenco: Carey Mulligan, Jake Gyllenhaal, Ed Oxenbould, Bill Camp, Zoe Margaret Colletti, Cate Jones, Blane Maye, Mollie Milligan, Darryl Cox, Sara Moore. Disponível no Net Now, 105 min.
Assista ao trailer:
COMENTÁRIOS