Ser comparado a Suspiria é ingrato, mas esse é o lugar que o próprio realizador italiano Luca Guadagnino (de Me Chame pelo seu Nome) se coloca quando decidiu fazer um remake do clássico de 1977 dirigido por Dario Argento. Suspiria: A Dança do Medo se afastou o máximo que pôde do longa de Argento, mantendo sua premissa, mas modificando alguns meandros de sua história principal. Entretanto, não adiantou muito. O resultado é que a nova versão do longa anseia ser superior ou, pelo menos, diferente do espelho que mira, mas resulta numa obra vazia de espontaneidade.
O longa tem início quando uma escola de dança na Alemanha começa a ser cenário de algumas manifestações macabras relatadas por uma de suas alunas ao seu psiquiatra. Quando começa a investigar a fundo os acontecimentos, o médico descobre que as bailarinas estão em perigo nas mãos do grupo de mulheres que coordena a instituição.
Para trazer substância ao remake de um filme que é puro exercício estético, sendo uma espécie de balé onírico do horror ao combinar elementos como música, direção de arte e fotografia apuradas, Suspiria: A Dança do Medo de Luca Guadagnino enche a trama de novos elementos. Há um contexto histórico e a situação de algumas personagens é alterada drasticamente, entre elas, a sua protagonista interpretada aqui por Dakota Johnson. Nada disso serve para dar maior fôlego à história.
Visualmente, o longa de Guadagnino está aquém do bizarramente belo resultado da obra de Argento. Suspiria: A Dança do Medo é um longa que esteticamente até oferece menos do que o realizador fez em outros de seus filmes. No lugar da combinação de cores de Argento, o que fica é um festival de sangue drenado por números de dança moderna que não justificam as mais de duas horas de projeção.
Para completar, por alguma estranha razão, Guadagnino entendeu que utilizar a atriz Tilda Swinton em três personagens distintos era uma boa ideia simplesmente porque ela é uma artista primorosa (e ela dá conta do recado, como era de se esperar), mas isso parece um grande artifício, como todo o filme no final das contas. O longa até possui alguns insights interessantes como a conexão entre o psiquiatra e uma das estudantes da escola descoberta na última cena, mas é muito rebuscamento cinematográfico para pouco filme.
Suspiria, 2018. Dir.: Luca Guadagnino. Roteiro: David Kajganich. Elenco: Dakota Johnson, Tilda Swinton, Mia Goth, Chloe Grace Moretz, Malgorzata Bela, Angela Winkler, Jessica Harper, Alek Wek, Elena Fokina. Playarte Filmes, 152 min.
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