Depois do Vietnã, Afeganistão e Iraque, Hollywood descobriu que o tráfico de drogas na América do Sul pode ser uma inesgotável fonte de narrativas. Novo trabalho do diretor J.C. Chandor (Margin Call e O Ano mais Violento) em parceria com a diretora Kathryn Bigelow (produtora desse projeto e diretora de Guerra ao Terror e A Hora mais Escura) e seu roteirista Mark Boal, Operação Fronteira é um projeto gestado na Netflix que tem essa ambiência narrativa.
O filme se apropria do gênero conhecido como "filme de roubo" para contar a história de um grupo de cinco ex-militares que lutaram nas guerras dos EUA contra o Afeganistão e Iraque e que resolvem se aventurar numa missão pela América do Sul para roubar uma grande quantia em dinheiro de um traficante local. O filme inicialmente acompanha o personagem de Oscar Isaac recrutando os demais, apresentando todos do grupo em suas características singulares para depois interessar-se pela ação do plano.
Chandor e Boal, autores do roteiro do filme, exploram muito pouco a questão política do cenário, que surge na superfície da história do seu grupo de ladrões. Operação Fronteira assume o intuito do entretenimento que esse tipo de gênero costuma carregar, se interessando mais em destrinchar o plano executado pelo grupo de personagens interpretados por Ben Affleck, Oscar Isaac, Charlie Hunnam, Garrett Hedlund e Pedro Pascal do que em questões geopolíticas. Portanto, não esperem maiores problematizações sobre algumas situações.
Operação Fronteira tem um mote interessante para seus personagens. O filme aborda a sensação de deriva sentida por ex-combatentes após retornarem para o país. Depois de vivenciarem uma guerra e serem explorados pelo governo como símbolo de heroísmo, todos são descartados e sentem-se deslocados em suas funções sociais quando retornam para casa.
O projeto se perde no terceiro ato ao trazer à tona questões graves e impor a seus protagonistas um regime de sobrevivência que não mereceria o tom leve e fugaz que acaba adotando, talvez um pouco mais de urgência e dramaticidade na meia hora final do projeto desse mais "corpo" ao longa.
Durante boa parte da sua realização, J. C. Chandor conduz de maneira inteligente e fluida sua ação e consegue apropriar-se do gênero de maneira adequada em Operação Fronteira. Apesar disso, está aquém daquilo que o cineasta já realizou em outros projetos. Acaba sendo um filme que satisfaz até certo ponto, mas não consegue se desvencilhar dos tropeços da sua meia hora final.
Triple Frontier, 2019. Dir.: J.C. Chandor. Roteiro: J.C.Chandor e Mark Boal. Elenco: Ben Affleck, Oscar Isaac, Charlie Hunnam, Garrett Hedlund, Pedro Pascal, Adria Arjona, Louis Rodriguez, Madeline Wary, Juan Camilo Castillo. Netflix, 125 min.
Assista ao trailer:
COMENTÁRIOS