Mais um exemplar da leva de remakes dos catálogos de animação Disney, Dumbo tem muito mais serviço a fazer com sua história original do que as novas versões de A Bela e a Fera ou Cinderela, por exemplo. Como Mogli, o Menino Lobo, a animação de 1940 era uma narrativa relativamente simples que tratava de um bebê elefante de um circo nascido com longas orelhas e que aprendia a voar enquanto sua mãe era mantida presa e isolada após, num ato de fúria, proteger seu filhote de humanos que zombavam da sua aparência.
Para Dumbo, a Disney chamou um realizador especialista em outsiders com títulos como Edward Mãos de Tesoura e Ed Wood no currículo, Tim Burton (que há anos nem anda tão inspirado assim). Há em Dumbo um evidente esforço de oferecer novos horizontes para sua história e não apenas refazer cena a cena os passos da animação como A Bela e a Fera de Bill Condon. Há material para Burton burilar e ele acrescenta personagens humanos a história e toda uma atualização a respeito do uso de animais como atrações de circo, talvez uma das melhores novidades dessa nova versão.
A trama de Dumbo se cruza com a de uma família cujo pai vivido por Colin Farrell tenta se reconectar com os filhos após retornar da guerra e se descobrir viúvo. O arco dramático dos personagens humanos é clichê, o que inclui a presença das crianças Nico Parker e Finley Hobbins como companheiros de Dumbo no lugar do ratinho Timóteo da animação. O desenvolvimento das demais figuras humanas também deixam a desejar, incluindo uma acrobata francesa interpretada por Eva Green e um vilão vivido por Michael Keaton. Ainda que Danny DeVito tenha bons momentos como o dono do circo, a atração da fantasia é mesmo o elefante voador e o que sua história tem a dizer sobre temas como bullying e a ganância das grandes corporações em sua exploração de animais para entretenimento (a Disney se redimindo da Seaworld?).
Técnica e artisticamente bem feito, algo que era de se esperar dada a equipe que Burton costuma reunir em departamentos como figurino e direção de arte, Dumbo rende uma revisita pertinente ao seu material original. Burton consegue ser reverente ao clássico de 1940 e, ao menos, se esforça mais que seus remakes contemporâneos em trazer novos elementos ao longa, se redimindo levemente dos tropeços cometidos pelo vergonhoso Alice no País das Maravilhas de 2010. Pelo menos em Dumbo há motivos de sobra que justifiquem sua existência no catálogo de remakes do estúdio ainda que essas inserções soem artificiais e genéricas em boa parte das vezes.
Dumbo, 2019. Dir.: Tim Burton. Roteiro: Ehren Kruger. Elenco: Colin Farrell, Eva Green, Michael Keaton, Danny DeVito, Alan Arkin, Nico Parker, Finley Hobbins, Roshan Seth, Lars Eidinger, Deobia Oparei, Joseph Gatt. Disney, 112 min.
Assista ao trailer:
COMENTÁRIOS