No mosaico de personagens de Velvet Buzzsaw estão artistas, donos de galerias, diretores de museus, críticos e especuladores da arte, todos vítimas de uma maldição que aniquila cruelmente esses personagens a partir do momento em que eles se interessam pela obra de um artista recém descoberto por conta do seu falecimento. A premissa do mais recente longa de Dan Gilroy (O Abutre e Roman J. Israel) que entra para o catálogo da Netflix utiliza o mercado da arte como universo para a criação de um espetáculo gore dos mais estetizados, com momentos de grande impacto visual e que, isoladamente, impressionam e magnetizam o olhar do espectador.
No entanto, há problemas na condução narrativa do filme de horror e na própria crítica do cineasta. Velvet Buzzsaw parece ter por trás um olhar ácido de Gilroy a respeito da mercantilização da arte, algo que além de se mostrar imaturo (como parte desse olhar para as artes de maneira geral que a coloca num pedestal de "não mercantilização") é tratada com uma certa superficialidade por uma trama e por personagens que não mostram nada além da superfície, suas profissões e características de personalidade unidimensionais. É o tipo de filme que "se expremer", o espectador tira muito pouco proveito do seu conteúdo.
Todavia, o que se destaca no recente trabalho do diretor é a atmosfera de horror que ele consegue criar para o universo das artes, encurralando seus personagens em situações assustadoras milimetricamente pensadas do ponto de vista imagético, gerando cenas de forte impacto espectatorial. O momento em que as obras se manifestam e ganham vida para assassinar as personagens desse mosaico são inspiradores do ponto de vista da encenação e Velvet Buzzsaw ao menos diz a que veio nesse quesito, transformando a arte num implacável serial killer digno de um slasher movie.
Jake Gyllenhaal, que foi estrela de O Abutre, um dos melhores trabalhos do cineasta até o momento (e da carreira do ator), está bem na pele de um crítico de arte, assim como Rene Russo, que também esteve no longa em questão e aqui vive uma dona de galeria. Há outras presenças pontuais como Toni Collette e John Malkovich que fazem pouco na história. Aliás, a maioria das personagens do filme faz muito pouco pela narrativa, como já sinalizado anteriormente. São figuras que estão ali apenas para estar à serviço do discurso reiterativo e superficial de Gilroy sobre a arte e para o seu show estetizado de horror.
O que interessa em Velvet Buzzsaw acaba sendo a experiência visual que o realizador quer passar para o espectador dentro do gênero no qual o longa se enquadra. É um filme de sensações mistas e contraditória. Aparenta uma profundidade temática que não possui, mas deixa uma impressão notável em algumas cenas muito bem realizadas pelo diretor.
Velvet Buzzsaw, 2019. Dir.: Dan Gilroy. Roteiro: Dan Gilroy. Elenco: Jake Gyllenhaal, Rene Russo, Zawe Ashton, Toni Collette, John Malkovich, Tom Sturridge, Natalia Dyer, Billy Magnussen, Daveed Diggs, Mig Macario, Sedale Threatt Jr., Nitya Vidyasagar. Disponível na Netflix, 113 min.
Assista ao trailer:
COMENTÁRIOS