Em Se a Rua Beale falasse, o premiado Barry Jenkins (do vencedor do Oscar Moonlight: Sob a Luz do Luar) exibe uma qualidade ímpar. O cineasta consegue performar a alma e o coração da comunidade negra americana na década de 1970 a partir da história de uma família com recursos mínimos, sem didatismos ou discursos inflamados. Da mesma forma como conseguiu exprimir sua mensagem sobre a procura da identidade por um rapaz negro e homossexual no seu filme anterior, Jenkins consegue narrar a jornada de amor de um casal e dos obstáculos para a concretização dessa relação impostos pela intolerância racial e injustiça social no seu país.
Com Se a Rua Beale falasse, Jenkins conta a história de amor de Tish e Fonny (os jovens Kiki Layne e Stephan James). Eles se conhecem desde a infância e vivem uma relação na juventude que acaba gerando como fruto um filho. Por meio de flashbacks, Jenkins exibe toda a beleza da expectativa em torno do futuro do casal, algo que se dilui aos poucos quando ambos passam a enfrentar a dura realidade do racismo nos EUA e Fonny é preso por um policial branco que julga ser ele o responsável pelo estupro de uma porto riquenha.
Se a Rua Beale falasse se apropria da doçura e inocência da expectativa amorosa do casal principal, como se compusesse um clássico romance americano, para em seguida diluir tais estratagemas dessa narrativa, contada em tantos filmes, numa melancólica história que confronta o preconceito. Mais interessante ainda é notar como, mais uma vez, Jenkins é sutil nessa construção, explorando elementos como as cores do seu cenário e figurinos (e ele já fazia isso lindamente em Moonlight), contando ainda com um elenco bem escalado que segue a mesma economia de recursos do seu diretor.
No âmbito das sutilezas e da consciência de que os recursos narrativos cinematográficos estão além do diálogo, Barry Jenkins compõe um filme sobre uma história de amor com alta consciência sobre a história da sua própria comunidade nos EUA e como isso atravessa esse ideal romântico. Se a Rua Beale falasse é um longa que, acima de tudo, fala a um povo, captando nos detalhes a cultura, a história e os problemas sociais enfrentados por ele. É um longa que exibe novamente a sensibilidade de um cineasta que pulsa consciência social sem que para isso precise externar violência física ou verbal, mas uma beleza puramente cinematográfica.
If Beale Street could Talk, 2018. Dir.: Barry Jenkins. Roteiro: Barry Jenkins. Elenco: Kiki Layne, Stephan James, Regina King, Aunjanue Ellis, Finn Wittrock, Colman Domingo, Teyonah Parris, Michael Beach, Ebony Obsidian, Dominique Thorne, Ed Skrein, Emily Rios, Pedro Pascoal, Diego Luna, Dave Franco. Sony, 119 min.
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