Do israelense Assaf Bernstein (Fauda), que dirige e assina o roteiro da produção, Não Olhe chega ao espectador como uma versão de Carrie, a Estranha, obra de Stephen King que chegou aos cinemas na década de 1980 pelas mãos de Brian de Palma. O longa conta a história de uma adolescente que se sente inadequada em casa convivendo com seus pais, às voltas com um casamento fracassado, e no colégio, onde sofre bullying dos colegas. Quando a garota descobre no espelho uma outra versão de si, eventos estranhos passam a acontecer com ela e todos a sua volta.
Bernstein se inspira num terror nórdico com suas locações frias e ambientes que inspiram uma fotografia seca, de paletas acinzentadas. A estética levemente sofisticada contrasta com a maneira simplista com que o roteiro do realizador conduz os eventos da sua trama, desde a forma como compreende a dinâmica familiar formada pela adolescente solitária, uma mãe com problemas emocionais e um pai ausente até o seu núcleo colegial. Os personagens do filme são movidos por emoções superficiais que não são esmiuçadas pelo realizador como a inveja, o medo e o desejo sexual.
A dinâmica estabelecida entre a protagonista e sua outra versão que está atrás do espelho representa, na visão do diretor, um contraste entre o mundo interno e externo da personagem vivida pela atriz India Eisley. Em dado momento, no entanto, o espectador entra em conflito a respeito desse jogo de personalidades: Maria (Eisley) é possuída por uma manifestação? Ela sofre de dupla identidade? Há uma terceira indagação que se junta às três e que não vale a pena comentar pois seria spoiler. O que interessa é que nenhuma das possibilidades em questão faz sentido no final das contas.
Deixando o espectador à deriva sobre o que de fato acontece com a adolescente Maria e sua família, Bernstein sugere que existe muito mais por trás das aparências do gênero terror em Não Olhe e que ambiciona se apartar disso, ainda que tenha uma âncora muito firme nele, o que faz o filme soar pouco sincero com suas próprias ambições autorais. No próprio gênero, Bernstein se equivoca, como quando perde o timing acerca da revelação de determinados acontecimentos ou nos momentos em que antecipa os "sustos" que pretende dar na plateia, o que revela sua imaturidade no manejo das próprias marcas desse tipo de narrativa.
Look Away, 2018. Dir.: Assaf Bernstein. Roteiro: Assaf Bernstein. Elenco: India Eisley, Mira Sorvino, Jason Isaacs, Penelope Mitchell, John C. MacDonald, Harrison Gilbertson, Kristen Harris, Ernie Pitts. Paris Filmes, 103 min.
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