Em Fragmentado, M. Night Shyamalan deu a deixa de que queria fazer com ele, Corpo Fechado e um terceiro filme a sua trilogia sobre super-heróis. Vidro é a concretização desse intento do cineasta. Assim, o filme foi antecedido por muita expectativa do público e muito hype em função do bom momento do diretor com a crítica após amargar fracassos sucessivos desde Sinais. O desfecho da trilogia de Shyamalan, contudo, é um capítulo bem aquém dos antecessores, não fazendo justiça a questões que o cineasta trouxe em Fragmentado, mas sobretudo em Corpo Fechado.
Vidro tem início com a internação de David Dunn, herói incorporado por Bruce Willis em Corpo Fechado, e Kevin, o homem de múltiplas personalidades vivido por James McAvoy em Fragmentado, pela Dra. Ellie Staple, papel de Sarah Paulson. Staple desenvolve um trabalho de pesquisa e tratamento de pessoas que acreditam ser dotadas de super-poderes, indíviduos que a psiquiatra acredita ter uma espécie de megalomania na percepção das suas próprias habilidades.
O aumento no escopo da história que já era sentido no desfecho de Fragmentado, um filme que começa como um estudo de personalidade tomado pela interpretação avassaladora de James McAvoy e se transforma num filme com inclinação para o fantástico, toma conta de Vidro. O mais recente trabalho de Shyamalan é o oposto daquilo que foi Corpo Fechado, um filme pequeno, marcado pelas decisões singelas e econômicas do seu cineasta. Vidro é cinema de grandes plateias e como tal mira no cinema de super-heróis, o blockbuster modelo de nossos tempos. Contudo, ainda é M. Night Shyamalan quem está por trás de sua concepção e, como era de se esperar, uma reviravolta no terceiro ato toma de assalto a trama e sabota por completo mais um exemplar na carreira do cineasta.
A despeito de alguns ótimos momentos de James McAvoy como o multifacetado Kevin e de Samuel L. Jackson mostrar-se mais uma vez interessante em cena como o dúbio e inteligente Elijah, Vidro não consegue se fazer relevante para o público desde o seu início e não consegue explicar todos os nós da sua história. No final, Shyamalan ainda tenta estabelecer um paralelo da situação dos seus três personagens centrais com questões humanas mais profundas, mas custa vender-se como algo melhor ou mais relevante que seus filmes antecessores. Sobra até para a sempre notável Sarah Paulson que é completamente perdida com sua personagem cambaleante e de natureza trôpega por obra de um roteiro que não convence, apesar de aparentar mirabolante, como de praxe em alguns dos piores momentos da carreira do cineasta.
Glass, 2019. Direção: M. Night Shyamalan. Roteiro: M. Night Shyamalan. Elenco: James McAvoy, Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Sarah Paulson, Anya Taylor-Joy, Spencer Treat Clark, Charlayne Woodard, Luke Kirby, Adam David Thompson. Disney, 129 min.
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