Foi-se o tempo que o nome de Peter Jackson nos créditos de qualquer produção conferia ao referido trabalho uma certa imponência. O realizador neozelandês que fez carreira com a trilogia O Senhor dos Anéis amargou alguns fracassos após King Kong de 2005, uma queda cimentada sobretudo pelos três filmes da franquia O Hobbit. O blockbuster Máquinas Mortais pode nem ser dirigido por Jackson, mas tem o seu DNA na produção e no roteiro (também escrito pelas mesmas Philippa Boyens e Fran Walsh de O Senhor dos Anéis), a partir do livro de Philip Reeve, e o resultado é decepcionante.
Máquinas Mortais é uma distopia que parece uma mistura de Mad Max com Jogos Vorazes ao narrar uma história que se passa num mundo dominado por cidades transformadas em grandes veículos. Eles sequestram uns aos outros como forma de sobreviver nesse universo que tem Londres como uma de suas máquinas dominadoras. A trama acompanha a história de uma misteriosa garota cujo rosto marcado por uma cicatriz é coberto por um lenço vermelho e seu encontro com o grande comandante de Londres, o famoso Thaddeus Valentine, interpretado por Hugo Weaving, o nome mais conhecido de um elenco formado basicamente por rostos novos.
Dirigido por Christian Rivers, que trabalhou nos departamentos de arte de todos os filmes de Jackson, Máquinas Mortais é uma aventura das mais arrastadas que apresenta as motivações da sua trama e dos seus personagens da maneira mais displicente possível. Nem parece um trabalho assinado por gente do calibre de Jackson, Boyens e Walsh. O roteiro do trio de O Senhor dos Anéis parece perder o prumo dos momentos mais oportunos de apresentar aspectos primordiais da sua história, como o passado da sua protagonista e os segredos da sua história, perdendo chances sucessivas de conquistar o espectador com uma eventual dramaticidade da sua história.
A construção do universo de Máquinas Mortais traz ainda mais incipiência ao longa. O espectador jamais é explicado a respeito da sua lógica motriz (as cidades transformadas em veículos), as motivações claras dos seus protagonistas e qual o lugar de cada uma das comunidades que habitam aquele mundo. No fim das contas, Máquinas Mortais se transforma num amontoado de efeitos visuais que apresentam a aventura, na medida do possível, de forma visualmente digna, mas que peca ao tentar encorpar um universo fantástico que em momento algum é atraente para o espectador.
Mortal Engines, 2018. Dir.: Christian Rivers. Roteiro: Peter Jackson, Fran Walsh e Phillipa Boyens. Elenco: Hera Hilmar, Robert Sheehan, Hugo Weaving, Stephen Lang, Jihae, Ronan Raftery, Leila George, Patrick Malahide. Universal, 128 min.
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