Além das versões em live action, os fãs do mais celebrado herói da Marvel, o Homem-Aranha, ganham um ótimo exemplar no terreno da animação. Homem-Aranha no Aranhaverso é resultado dos esforços criativos e do talento de Phil Lord, Chris Miller e Rodney Rothman (que foram responsáveis por Anjos da Lei e Uma Aventura Lego) e se dividem na produção e roteiro do projeto. Como saldo, um filme cheio de cores e com uma estética particular que nos remete aos quadrinhos e que preserva a mitologia do personagem com uma inventividade e ousadia que só poderia ser encontrada fora dos "esquemões" das super-produções dos recentes universos cinematográficos criados pelos estúdios para suas franquias de heróis.
Aranhaverso traz ao espectador uma variedade de possíveis identidades para o Aranha que ao convergirem ofertam a possibilidade de imaginarmos tramas alternativas e traços variados para o herói. Como centro da trama, o jovem Miles Morales, um adolescente negro do subúrbio americano, mas há também uma Mulher-Aranha cujo manto é assumido por Gwen Stacy, conhecida "mocinha" do herói nos quadrinhos, além de um Peter Parker maduro e outras versões como o Porco-Aranha e o Aranha Noir, dublado na versão original por ninguém menos que Nicolas Cage.
No papel, a ideia pode parecer maluca, mas o filme é uma oportunidade para o departamento de animação da Sony exercitar possibilidades visuais e narrativas para uma adaptação de HQs de super-heróis que no "esquemão" das super-produções seria inviável pelo risco, o temor da perda financeira nas bilheterias por ser um longa que foge do padrão de história passível de ser consumida e agradar todos os públicos. Aranhaverso é um filme com assinatura que não segue os protocolos da aventura convencional dos grandes estúdios nem mesmo na sua tendência de ser "engraçadinho" e auto-referente.
Visualmente, é interessante notar, por exemplo, como cada versão alternativa do Aranha possui um traço e personalidade particular adequadas aos seus universos de origem: o noir para o Aranha Noir, o anime para uma versão robô controlada pela garotinha Peni Parker e o cartoon no caso do Porco Aranha. Como narrativa, o filme traça uma história com um norte convencional, ao centrar sua jornada de amadurecimento do herói em Miles Morales, mas encontra alternativas cheias de frescor para apresentá-la, sobretudo quando o mesmo se encontra com a versão do Aranha assumida pelo Peter Parker mais velho.
De maneira geral, Aranhaverso "emula" em traços e cores a abordagem dos quadrinhos e seguindo esse caminho oferece uma possibilidade mais arriscada de reimaginar um cânone que no formato dos atores de "carne e osso" e de universos compartilhados seria impossível, mas que nas HQs já é efetivamente exercitado há décadas. Talvez só uma animação pudesse dar uma sacudida efetiva num tipo de produção tão estandardizado como os filmes de super-heróis, que, mesmo em exemplares tão revigorantes quanto Pantera Negra ou Mulher Maravilha, inevitavelmente, está preso a rédeas criativas muito rígidas e limitadoras por seus estúdios.
Spider-man: Into the spiderverse, 2018. Dir.: Rodney Rothman, Bob Persichetti e Peter Ramsey. Roteiro: Phil Lord e Rodney Rothman. Vozes de: Shameik Moore, Jake Johnson, Hailee Steinfeld, Mahershala Ali, John Mulaney, Nicolas Cage, Kimiko Glenn, Kathryn Hahn, Liev Schreiber, Chris Pine, Brian Tyree Henry, Lily Tomlin, Zoe Kravitz, Luna Mauren Velez. Sony, 117 min.
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