O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos é mais uma incursão da Disney em live actions. Diferente de títulos como A Bela e a Fera, Mogli ou Cinderela, o filme do estúdio não chega com o estigma do remake. Assim, não deixa de ser com tristeza que podemos atestar o resultado ruim desse conto inspirado no clássico balé de Tchaikovsky, que de memorável mesmo só os seus estonteantes recursos plásticos (um show de figurino e direção de arte) e um momento em que explora uma sequência de balé para apresentar os reinos que compõem o título do filme. De resto, o longa é oco como narrativa.
Como manda a tradição do Quebra-Nozes, O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos se passa no Natal, quando após a morte da mãe, Clara, seus dois irmãos e o pai estão a caminho de uma confraternização natalina na propriedade do seu padrinho. A garota acaba ganhando de presente uma jornada que a levará a um lugar profundamente marcado pelos atos da sua mãe, recebendo a missão de instaurar a paz entre os quatro reinos que o compõe.
O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos é um filme com uma rachadura. A fantasia passou por refilmagens e acaba que os créditos de sua direção tem os nomes de Lasse Hallstrom (de Chocolate), que conduziu o filme a princípio, e Joe Johnston (Capitão América: O Primeiro Vingador), responsável por sua refilmagem. Não é perceptível ao espectador o dedo de Hallstrom e Johnston no filme, mas é sensível uma mudança de curso na história com um twist que transforma o destino das personagens de Helen Mirren e Keira Knightley, a Mãe Ginger do Reino do Divertimento e a Fada Sugarplum do Reino dos Doces, respectivamente, a ponto das melhores atrizes do elenco não conseguirem ter personagens com propósitos consistentes ao longo da história.
No outro pólo, O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos tem uma heroína das mais genéricas interpretada por Mackenzie Foy, assim como é genérica a sua jornada e o propósito da mesma, fazendo com que o filme pareça uma espécie de colagem de outros contos como Alice no País das Maravilhas. O resultado é um conto de fadas cuja magia é constantemente anunciada, mas nunca está lá. Uma aventura de narrativa oca e morna, sem picos de emoção e que, por isso mesmo, jamais envolve o espectador com o mínimo de encantamento que a beleza dos seus frames anuncia. O universo fantástico criado pelo longa jamais desperta curiosidade ou seduz o espectador.
Se há um componente vencedor nessa narrativa fantástica marcada pela frieza é a beleza dos momentos que explora a arte da bailarina Misty Copeland, o único resquício do encantamento do verdadeiro Quebra-Nozes presente no filme. Nem mesmo o personagem título mostra alguma relevância no filme. Assim, fica mais uma oportunidade perdida para a Disney mostrar que além de faturar com as usuais "pratas da casa", o seu já conhecido catálogo, é importante renovar o repertório com histórias que não sejam remakes. É para se lamentar.
The Nutcracker and the Four Realms, 2018. Dir.: Lasse Hallstrom e Joe Johnston. Roteiro: Ashleigh Powell. Elenco: Mackenzie Foy, Keira Knightley, Helen Mirren, Morgan Freeman, Matthew Macfadyen, Tom Sweet, Ellie Bamber, Richard E. Grant, Max Westwell, Jayden Fowora-Knight, Omid Djalili, Jack Whitehall, Misty Copeland, Anna Madeley. Disney, 99 min.
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