Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald sofre do mesmo mal de mais de meia dúzia de extensões de franquias originais no cinema: não saber lidar com o desfecho da sua própria saga. Assim como aconteceu como O Hobbit no caso de O Senhor dos Anéis e como em breve deve acontecer com Game of Thrones e seu prequel, Animais Fantásticos pretende ser uma extensão do universo de Harry Potter em cinco filmes e traz, como continuidade do filme anterior, a sensação de que tudo nele é artifício, bem diferente da urgência da saga original que adaptou as obras literárias de J.K. Rowling. Em síntese, filme para fã ver como um grande fanservice, um blockbuster fetiche.
O primeiro já era dominado por essa atmosfera fanboy. O segundo, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, então está mergulhado na banalidade dos inúmeros elementos que são isca pro fandom da franquia, resultando num filme que em si não tem foco, dado o incontável número de personagens e tramas que tomam, propositalmente, o espectador de assalto. Afinal, é preciso criar fôlego para mais três produções, ainda que isso sacrifique a própria fruição do espectador que não possui vínculo mais forte algum com a franquia. A ordem em Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald é a dispersão e falta de uma história central, aspectos extremamente nocivos para qualquer narrativa minimamente coesa.
O filme acompanha os eventos do longa anterior na medida em que o bruxo Grindelwald (Johnny Depp) começa a fomentar o seu plano de supremacia dos seres puramente mágicos. Para conter a ameaça representada pelo vilão, Newt Scamander (Eddie Redmayne) é convocado pelo professor de Hogwarts, Alvo Dumbledore (Jude Law), para conter a ameaça já que Grindelwald está conseguindo reunir no seu entorno um volumoso número de seguidores.
Acompanhar Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald é uma tarefa ainda mais difícil que ver Animais Fantásticos e Onde Habitam, não só pelo excesso de tramas e relações a serem desenvolvidas entre os personagens, mas porque a premissa desse prequel de Harry Potter ainda não mostrou relevância em comparação com a saga original dos personagens de J. K. Rowling. David Yates, diretor de Harry Potter desde Harry Potter e a Ordem da Fênix, já demonstra uma direção no automático, destacando a urgência do universo ter um outro olhar sobre seus eventos, ou seja, um novo diretor no comando, algo que os produtores deveriam ter providenciado desde o primeiro filme. Há personagens em demasia e o roteiro insiste em adiar a apresentação de camadas a algumas figuras que parecem centrais para a história como forma de justificar a existência de mais filmes. Assim, o longa desperdiça atores como Ezra Miller e o próprio Jude Law como Dumbledore. Ao mesmo tempo, a continuação descarta presenças interessantes como Zoe Kravitz e não justifica alguns rumos tomados por personagens que já têm a simpatia do público como Queenie Goldstein (Alison Sudol).
Nesse emaranhado de tramas entrecruzadas, pode ser que Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald só satisfaça mesmo os fãs do trabalho de J. K. Rowling na franquia Harry Potter ou nem mesmo eles, já que no grupo certamente existem espectadores atentos que não se deixam levar por pela simples menção a elementos e personagens que fazem parte do universo. Isso tudo é trivia e pouco importa. Enfim, ainda restam mais três filmes. É tomar fôlego.
Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald, 2018. Dir.: David Yates. Roteiro: J.K. Rowling. Elenco: Eddie Redmayne, Johnny Depp, Jude Law, Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Ezra Miller, Zoe Kravitz, Claudia Kim, Carmen Ejogo, Callum Turner, Kevin Guthrie. Warner, 134 min.
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