Em setembro de 1988, chegava às telas americanas Elvira, a Rainha das Trevas, primeiro longa estrelado por um dos maiores ícones da TV nos anos de 1980. Criação da atriz Cassandra Peterson quando chegou aos EUA após uma temporada na Europa, Elvira era a apresentadora do popular programa de TV Movie Macabre destinado à exibição de clássicos do terror e filmes "B" do gênero.
A caminhada de Peterson até Elvira foi peculiar. Durante a sua estadia na Europa, Cassandra foi vocalista de uma banda de rock e até participou de Roma de Fellini, do cineasta italiano Federico Fellini, como figurante na pele de quatro personagens diferentes. Quando retornou aos EUA, Peterson participou de um concurso nacional para a apresentação do Movie Macabre e acabou vencendo a disputa com a personagem "maluquinha" que criou - inclusive, o próprio visual de Elvira, do figurino à maquiagem, é criação de Peterson. Desbocada e sempre com uma piada de duplo sentido na ponta da língua, Elvira não só apresentava como tecia alguns comentários em tom de humor principalmente sobre as produções "B", tornando o Movie Macabre um programa extremamente popular nas noites de sexta-feira.
A caminhada de Peterson até Elvira foi peculiar. Durante a sua estadia na Europa, Cassandra foi vocalista de uma banda de rock e até participou de Roma de Fellini, do cineasta italiano Federico Fellini, como figurante na pele de quatro personagens diferentes. Quando retornou aos EUA, Peterson participou de um concurso nacional para a apresentação do Movie Macabre e acabou vencendo a disputa com a personagem "maluquinha" que criou - inclusive, o próprio visual de Elvira, do figurino à maquiagem, é criação de Peterson. Desbocada e sempre com uma piada de duplo sentido na ponta da língua, Elvira não só apresentava como tecia alguns comentários em tom de humor principalmente sobre as produções "B", tornando o Movie Macabre um programa extremamente popular nas noites de sexta-feira.
Após todo o sucesso de audiência na TV, a NBC encomendou a produção de um longa-metragem para o cinema co-roteirizado pela própria Peterson e com dirteção de James Signorelli, conhecido pela direção da comédia Tudo por uma Herança. O longa trazia a personagem se despedindo do seu programa de TV para iniciar uma tão sonhada turnê de shows em Las Vegas. Elvira acaba se descobrindo herdeira da herança de uma tia no interior do país, algo que se torna providencial já que para seus novos projetos profissionais ela precisará de muito dinheiro. Quando chega na cidade da sua falecida parente, se depara com uma comunidade extremamente conservadora que não vê com bons olhos a aparência e o comportamento "extravagante" de Elvira. É então que um conflito se instala, sobretudo quando a estrela de TV também descobre que possui alguns poderes.
Quando estreou nos cinemas dos EUA, Elvira, a Rainha das Trevas foi um grande fiasco, sobretudo entre os críticos. Nas bilheterias, o filme que custou cerca de US$ 7 milhões, mal se pagou com os US$ 5 milhões que faturou somente nos EUA. Quando a temporada de premiações de 1989 começou, a carreira do longa foi encerrada com uma indicação ao Framboesa de Ouro de pior atriz e algumas menções na categoria pior filme de 1988 em premiações do gênero, como The Stikers Bad Movies Awards.
Como o tempo às vezes é um fator que faz bem na receptividade de algumas obras, o filme acabou virando objeto de culto. No Brasil, sua exibição reiterada na Sessão da Tarde de Rede Globo acabou conferindo a Elvira, a Rainha das Trevas a alcunha de clássico do programa, alcançando alguns dos melhores índices de audiência da emissora quando exibido e virando uma das produções mais adoradas por uma geração cinéfila que se formava na década de 1990.
Antes de mais nada, não dá para levar Elvira, a Rainha das Trevas a sério. O próprio longa se assume como uma produção trash que incorpora na sua própria lógica o tom da personagem de Peterson e dos filmes "B" que comentava na TV, sendo também um veículo ou "braço" da então extensa cadeia de produtos licenciados da artista, como álbuns de figurinhas, bonecas, fantasias de Halloween e toda sorte de quinquilharias geeks.
Toda a dinâmica do filme é centrada numa anarquia provocada pela rainha das noites de terror numa comunidade castrada e guiada pelos mandos e desmandos de uma associação da "moralidade" típica dessas que a gente encontra no interior do país (ou não, a depender do cenário social vigente). A maneira que Elvira choca esse grupo de personagens é através da sua aflorada libido e sua inclinação para as forças ocultas.
Elvira acaba desestabilizando alguns bastiões daquela comunidade. Ela se interessa e também é objeto de interesse do "bronco" de bom coração Bob Redding, levando a tensão sexual entre os dois às vias de fato. É Elvira quem também ajuda a jovem Robin a sair da vista rigorosa da sua mãe, a rabugenta gerente do hotel da região. Sem contar que Elvira inicia uma guerra com Chastity Pariah ("castidade" em inglês), a maledicente líder da já mencionada associação formada por membros mais velhos daquela comunidade que se transforma numa espécie de patrulha disposta a censurar qualquer hábito local que transgrida o rígido manual de conduta religiosa do lugar. E é claro que Elvira transgride todos eles.
No fim das contas, Elvira, a Rainha das Trevas é um longa que aborda o que existe por trás do incomodo de camadas extremamente conservadoras da sociedade quando se deparam com figuras que representam tudo aquilo que reprovam, como é o caso de Elvira. Por vezes de maneira simplista, entendendo que no fundo existe um grande recalque e frustração pessoal por trás do preconceito, e em outros momentos precisos nas suas inserções sobre a natureza perversa do bullying, como o impacto que causa a cena na qual a protagonista sofre uma humilhação pública após uma apresentação no cinema de Bob à la Flashdance, o objetivo de Elvira, a Rainha das Trevas não é traçar nenhuma análise social profunda, mas é curioso como ele consegue inserir pautas que ainda são representativas hoje em dia. Assim, não causa estranheza alguma as razões que o fizeram ser tão adorado por tanta gente em 30 anos de existência.
No fim das contas, Elvira, a Rainha das Trevas é um longa que aborda o que existe por trás do incomodo de camadas extremamente conservadoras da sociedade quando se deparam com figuras que representam tudo aquilo que reprovam, como é o caso de Elvira. Por vezes de maneira simplista, entendendo que no fundo existe um grande recalque e frustração pessoal por trás do preconceito, e em outros momentos precisos nas suas inserções sobre a natureza perversa do bullying, como o impacto que causa a cena na qual a protagonista sofre uma humilhação pública após uma apresentação no cinema de Bob à la Flashdance, o objetivo de Elvira, a Rainha das Trevas não é traçar nenhuma análise social profunda, mas é curioso como ele consegue inserir pautas que ainda são representativas hoje em dia. Assim, não causa estranheza alguma as razões que o fizeram ser tão adorado por tanta gente em 30 anos de existência.
Do ponto de vista formal, o filme dirigido por Signorelli convive com a contradição quando o assunto é a sexualidade aflorada da sua protagonista. O diretor explora à exaustão planos que focam partes do corpo de Cassandra Peterson, sobretudo seus seios, que, aliás, servem de inspiração para boa parte das piadas da personagem. Chega ser estranho reassistir ao filme depois de tanto tempo (e com mais repertório cinematográfico) e notar como são aleatórios alguns closes no bumbum de Peterson, como aquele que Signorelli dá quando ela está reformando sua mansão mal assombrada e é observada pelos adolescentes da rua. Em outras circunstâncias ainda mais esdrúxulas, Signorelli mantém o decote de Peterson no quadro numa cena na qual Elvira está conversando com o grupo de jovens na lanchonete e seu corpo nem é pauta de discussão. Há que se falar que todos esses momentos têm o aval da atriz, que entendia o apelo ao corpo de Elvira como parte funcional da personagem.
Há ironia quando o filme salienta a maneira como a comunidade da cidadezinha que recebe Elvira reage aos mais inocentes movimentos da personagem, como quando ela conversa com seu tio Vinny se debruçando sob a janela do carro dele e Chastity e as demais senhoras da cidade interpretam a cena como a negociação de um programa. Em outras circunstâncias, porém, todo o caráter tosco e barato do modus operandi de Elvira, a Rainha das Trevas rende momentos que o transformaram num dos maiores guilty pleasures de sua geração. Como esquecer da inacreditável dança dos seios da personagem na qual Peterson conseguia movimentá-los em sentidos opostos durante a apresentação de um número musical em Las Vegas? O momento acabou naturalmente sendo transformado em gif/meme com a internet e a proliferação de fóruns de discussão e fanpages da personagem.
Elvira ganhou outro longa-metragem em 2001 chamado As Loucas Aventuras de Elvira, menos conhecido que esse, é verdade, e em 2010 ela retornou com o Movie Macabre nos EUA. Por força de restrições judiciais, o filme não é mais exibido na TV aberta brasileira, como uma série de outros clássicos da Sessão da Tarde de sua época, mas sempre é tempo de passá-lo adiante para novas gerações. O filme ganhou uma versão em DVD recentemente pela Classics a preços bem acessíveis e no YouTube há uma série de compilações com alguns dos melhores momentos do longa.
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