No catálogo da Netflix há alguns meses, a comédia romântica O Plano Imperfeito passa longe da promessa de revolucionar o seu gênero e também nem precisaria. O filme é cheio de marcas batidas no roteiro de qualquer comédia romântica, sem que isso signifique uma péssima execução delas pelo longa em questão ou que a obediência das mesmas seja sinônimo da ausência de valor do projeto. O filme é gostoso de assistir como uma sessão descompromissada. Basicamente, o que vemos na sua história são os assistentes de dois renomados profissionais das suas respectivas áreas tentando fazer com que seus chefes se apaixonem para enfim conseguirem ter uma rotina menos atribulada, tendo tempo para coisas corriqueiras como dedicar mais horas a suas verdadeiras ambições profissionais e namorar.
Nem tudo é óbvio por aqui. O roteiro de Katie Silberman é esquemático nos caminhos de sua trama, mas guarda algumas surpresas pontuais. É claro que há um gradual envolvimento afetivo dos seus protagonistas, os assistentes Harper (Zoey Deutch) e Charlie (Glen Powell), mas até mesmo quando apela para convenções, como a clássica sequência de corrida ao aeroporto que, curiosamente, não tem como intuito reatar um casal, mas sim separá-lo, O Plano Imperfeito encontra um jeito de ser simpático aos olhos do espectador.
A direção de Claire Scanlon não propõe nenhuma ruptura, mas sabe brincar com o lugar comum do gênero, explorando a simpática comicidade do dia-a-dia agitado da selva de pedra que é Nova York. Nesse território de conforto para o espectador, que reconhece nos caminhos da trama a trajetória de tantos outros filmes do gênero, o título da Netflix consegue ser simpático, sobretudo quando o casal de protagonistas Zoey Deutch e Glen Powell deixam de forçar a barra com o espectador e abraçam de vez o romantismo piegas que o filme gradualmente assume.
Os atores não são um ponto forte do longa, é preciso reconhecer. A princípio, o casal principal carrega nos trejeitos cool com que seus personagens se portam para as situações mais banais possíveis. Os chefes interpretados por Lucy Liu e Taye Diggs também não escapam dos exageros, sublinhando a insensibilidade dos seus executivos na relação que estabelecem com seus assistentes e suas excentricidades nas rotinas da empresa. Porém, assim como ocorre com Deutch e Powell, Liu e Diggs, sobretudo a primeira, começa a exibir algumas camadas a mais que fazem sua personagem fugir da estereotipia.
O Plano Imperfeito não é um exemplar marcado por arrojo criativo. No entanto, o "lugar comum" de algumas escolhas o transformam numa sessão descompromissada que funciona no consumo doméstico da Netflix. Pertencente a um gênero cinematográfico cada vez mais escasso nos cinemas e que é bastante contemplado em serviços de streamings populares como a Netflix, O Plano Imperfeito tem suas rachaduras, mas é o tipo de guilty pleasure que consegue segurar o público no carisma.
Set It Up, 2018. Dir.: Claire Scanlon. Roteiro: Katie Silberman. Elenco: Zoey Deutch, Glen Powell, Lucy Liu, Taye Diggs, Joan Smalls, Meredith Hagner, Pete Davidson, Jon Rudnitsky, Tituss Burgess, Jake Robinson, Aaron Costa Ganis. Netflix, 105 min.
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