'Grease' e o registro da geração dos anos 1950


Em 1978, o musical Grease se transformou num rápido fenômeno cultural americano. Revivendo a década de 1950 em seus cenários, figurinos, músicas e na atmosfera da época sugerida por concursos de dança e o fascínio de uma geração por conversíveis, jaquetas de coro e gel no cabelo, o filme de Randal Kleiser, responsável por outras obras populares como A Lagoa Azul e Querida, Estiquei o Bebê, é mais a celebração de uma nostalgia do que uma história propriamente bem amarrada. O caso de um fenômeno cultural que se impõe até mesmo ao mais severo dos críticos.

A história de Grease girava em torno de um casal de adolescentes que se conhecia nas férias de verão, se reencontrava no colégio e passava por alguns desencontros, sendo pressionados por um contexto social que tentava enquadrá-los em estigmas não correspondentes às suas verdadeiras personalidades. Esse era o obstáculo para o amor de Danny (Travolta) e Sandy (Newton-John), que era narrado com muita música e cores vibrantes. 


Grease fazia parte de um contrato do ator John Travolta com a Paramount iniciado com Os Embalos de Sábado à Noite e que englobava mais outros dois filmes. Um desses títulos era Grease. Parte da popularidade do filme até hoje se deve à ótima escalação de elenco dos produtores, que fizeram uma prática antiga em Hollywood. Absorveram alguns talentos da versão da Broadway do musical, escalando-os em papeis coadjuvantes, como Jeff Conaway, que lá vivia o Danny de Travolta e aqui interpretava o melhor amigo do personagem, Kenickie. Para os protagonistas, o longa se beneficiava da desenvoltura física de Travolta para a dança, da potencialidade vocal de Olivia Newton-John e da química do casal em cena. 

Ainda no elenco de Grease, é notável o trabalho de Stockard Channing como a rebelde Rizzo, a personagem mais interessante e rica do filme, por sinal. Channing vive uma garota que reage com cinismo ao viva la vida da época, percebendo e reagindo às ranhuras de uma sociedade por vezes hipócrita, aparentando uma insensibilidade que está longe de corresponder à realidade. A atriz está tão brilhante e magnética no filme que, mesmo não compartilhando a mesma destreza musical de Travolta e Newton-John, consegue tornar números como "Look at me, I am Sandra Dee" e "There are worse things I could do" tão marcantes quanto os celebrados "Summer Nights" e "We go together" interpretados pelos protagonistas do longa.



Por vezes disperso, contendo alguns poucos números musicais que não fazem muito pela história (como aquele protagonizado por Didi Conn, intérprete de Frenchie, amiga de Sandy) e aparentando não ter uma trama suficientemente elaborada para contar, Grease é um filme que foi concebido mais como uma forma de celebrar a juventude de uma época. O Danny Zucco de John Travolta dá prosseguimento ao legado de James Dean em Juventude Transviada e Marlon Brando em O Selvagem, décadas atrás, mas num espírito mais descompromissado e cônscio do seu potencial na cultura pop, que se concretizou com a sua recepção e segue até hoje num imaginário mundial quando os anos de 1950 precisam de algum referencial. 

Grease é daqueles casos nos quais o legado histórico e a precisão com que a obra consegue captar o contexto retratado se impõe como mais determinante que a narrativa - e funciona muito bem nesses termos. Até hoje são produzidas festas temáticas com Grease como referência e musicais que voltam no tempo como Hairspray e que procuram o high school como ambiência como é o caso da série High School Musical têm o filme de Randal Kleiser como espelho. Esse legado ninguém tira de Grease e daí sua importância.

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Chovendo Sapos: 'Grease' e o registro da geração dos anos 1950
'Grease' e o registro da geração dos anos 1950
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