'Em Algum Lugar do Passado', o romance cultuado da carreira de Christopher Reeve

O ano era 1978. Christopher Reeve tinha sido apresentado ao público em Superman: O Filme, de Richard Donner, e o diretor Jeannot Szwarc havia feito um sucesso financeiro considerável com Tubarão 2, continuação do clássico de Steven Spielberg de 1975. Com respaldo suficiente na Universal, Szwarc entrega aos executivos do estúdio uma proposta de adaptação de Em Algum Lugar do Passado.

Em Algum Lugar do Passado era um livro de autoria do escritor Richard Matheson inspirado num sonho que ele tivera anos atrás com a atriz Maude Adams depois de se deparar com um retrato dela no Piper's Opera House em Virginia. Adams ficara famosa por interpretar Peter Pan na montagem de 1905 da Broadway e por anos Matheson nutriu uma paixão pela imagem daquela mulher que sequer conhecera e que não lhe era contemporânea.

Aceitando Em Algum Lugar do Passado como um dos projetos da casa, a Universal dá sinal verde para a produção em 1979. O próprio Matheson foi responsável pela adaptação do livro convertendo-o em roteiro de cinema. Junta-se a Reeve, a atriz Jane Seymour, conhecida na época por interpretar uma bondgirl em Com 007 Viva e Deixe Morrer, e Christopher Plummer.

O filme trazia a história de Richard Collier, personagem inspirado no próprio autor da obra, um dramaturgo que durante um evento é abordado por uma senhora. Oito anos depois, numa viagem, Collier descobre a mesma mulher em uma foto da sua juventude num dos quartos do hotel onde está hospedado. Richard fica sabendo que se trata de Elise McKenna, uma famosa atriz de teatro da sua época. Com a certeza de que já havia encontrado aquela mulher em algum momento da sua vida, Richard entra em contato com um antigo professor e descobre ser possível fazer uma viagem no tempo através da hipnose. É então que Collier se transporta para o ano em que Elise está naquele mesmo hotel prestes a fazer a última apresentação de um dos seus maiores sucessos nos palcos.

O veredito do filme hoje

Em Algum Lugar do Passado tem um timing curioso. O encontro entre Elise e Richard demora a acontecer e, mesmo acontecendo, as coisas não parecem fluidas o suficiente para desenrolar uma história de amor que transcende a tela. Szwarc não administra bem o seu tempo e, na ida ao passado parece ter pressa para encerrar sua história, quando, na verdade, o coração dela está nessa viagem temporal. O personagem de Christopher Plummer surge como um empecilho para o casal principal mas sua presença como uma ameaça jamais se concretiza. Utilizar como recurso para a viagem no tempo a hipnose é algo interessante no romance, evitando elementos pirotécnicos demais em tempos de Star Wars e pré-De Volta para o Futuro.

Há esforços artísticos notáveis, como a fotografia de Isidore Mankofsky, que a partir de um trabalho com a luz dos seus cenários procura reproduzir quadros da época, tendo o apoio de um exímio trabalho da equipe de direção de arte e figurinos. Há também a trilha sonora marcante que, inclusive, faz mais pelo casal principal do que o próprio Szwarc em alguns momentos. Esse trabalho é capaz de oferecer cenas de grande inspiração, como esta:

A trajetória

Lançado nos cinemas em 1980, Em Algum Lugar do Passado não angariou a bilheteria esperada para um projeto protagonizado por Christopher Reeve logo após o hit Superman: O Filme. Por sua vez, na China, o longa é um dos maiores sucessos comerciais dos EUA, sendo constantemente reexibido em cinemas.

Com o tempo, Em Algum Lugar do Passado se transformou em obra cultuada dentro dos próprios EUA. É notável o impacto dessa mistura de romance e ficção científica em parte do público, a ponto de ter sido determinante a criação de um fã-clube para a obra em 1990 chamado INSITE (International Network of Somewhere in Time Enthusiasts). Até hoje os membros do clube se reúnem para promover ações em torno do filme, como sessões comemorativas e grupos de discussão na internet. Segundo as diretrizes do próprio, o INSITE existe para: "Honrar o filme e aqueles responsáveis por sua criação, trazendo informações a seus membros sobre todos os seus aspectos, realçando a apreciação da obra, assim como tentando influenciar a percepção do público e da mídia sobre o filme e assegurando o seu reconhecimento como o clássico que sabemos que ele é." (FONTE: IMDB).