5 motivos que fazem de 'Batman: O Cavaleiro das Trevas' um filme a ser superado


Completando uma década de lançamento em 2018, Batman: O Cavaleiro das Trevas segue um marco entre as adaptações de HQs de super-heróis no cinema. Nas bilheterias, o filme já foi batido numericamente por títulos como Pantera Negra, Vingadores: Guerra Infinita, Vingadores e Os Incríveis 2 (atualmente o filme de Nolan ocupa a quinta posição no ranking do seu gênero). No entanto, não é por sua arrecadação que o longa está acima da concorrência, mas pelo projeto de cinema ao qual se filiava e que parece completamente distante em tempos de mega crossovers como o que estamos vivendo no nicho. Aproveitamos que o longa está completando 10 anos e elencamos cinco razões que o tornam referência entre os filmes de super-heróis: 


1º. Nolan totalmente no controle

Praticamente um luxo nos dias de hoje. Christopher Nolan teve total liberdade criativa dentro da Warner para fazer o filme que queria. Na verdade, até 2016, o estúdio seguia adotando a política e assumindo os riscos do controle criativo que dava a seus realizadores. A recepção ruim a Batman vs. Superman: A Origem da Justiça fez o estúdio recuar na sua política e adotar o modus operandi da sua rival, a Marvel Studios, legando a seus executivos parte do comando criativo das suas produções. Acontece que enquanto por lá os chefões não eram apenas executivos, na Warner, parte desses engravatados não entendiam muito de cinema, apenas de negócios e o resultado foram filmes como Esquadrão Suicida e Liga da Justiça, obras que sacrificaram a visão dos seus cineastas em prol da perspectiva torta que seus produtores tinham sobre tendências de mercado a partir de modelo bem executado na Marvel. 

No caso de Batman: O Cavaleiro das Trevas, os tempos eram outros e o próprio nicho de filmes de super-heróis não tinha se transformado nessa máquina que é hoje - Homem de Ferro, filme que inauguraria o projeto Vingadores estreou no mesmo ano do longa de Nolan. Com a autonomia que teve, Nolan fez de Batman: O Cavaleiro das Trevas um filme apartado de qualquer compromisso com audiências que lhe restringiriam criativamente. Sem a obrigação de atender às demandas das comunidades de fãs, cada vez mais atuantes e determinantes nesse tipo de produção, e às necessidades de homogeneização dos filmes para servir a projetos de crossovers (modelo Vingadores), Nolan conseguiu fazer na Warner a sua leitura da mitologia do Batman, algo que, dado os compromissos comerciais e as amarras desses projetos hoje em dia, não veremos se repetir tão cedo. Isso fez de Batman: O Cavaleiro das Trevas um filme de identidade visual e narrativa ímpar, deixando em nós a impressão de que não estávamos diante de um exemplar efêmero, uma sensação cada vez menos frequente quando nos deparamos com a quantidade de filmes desse gênero que são lançados por ano no cinema e sob lógicas cada vez mais industriais e infantilizadoras do seu público. 


2º. Um gênero levado a sério

O roteiro de Batman: O Cavaleiro das Trevas é escrito por Christopher Nolan e seu irmão Jonathan, apresentando marcas típicas daquelas apresentadas pelos filmes do cineasta, como um apreço pela racionalização da sua trama, pela concatenação lógica de acontecimentos de um típico filme policial etc. Isso acontece em virtude do primeiro tópico que apontamos, o longa é um filme que está inserido dentro de uma lógica do estúdio, mas Nolan tinha tanta liberdade na Warner (conquistada, é verdade) que conseguiu trazer sua assinatura até mesmo para um filme do Batman. Todos esses aspectos levaram Batman: O Cavaleiro das Trevas a propor um rol interessante de reflexões sobre ética, segurança, mas acima de tudo sobre a construção pública da ideia de herói, um mito desconstruído gradativamente por um vilão que propõe, nas palavras do próprio, "passar uma mensagem". 

Ao transformar Harvey Dent, símbolo da esperança de dias melhores em Gotham e que era visto pelo próprio Batman como uma figura heroica que manteria o seu legado, num vilão, o Coringa conduz do início ao fim uma proposta reiterada nas HQs do personagem da DC quando ele confronta seu principal inimigo: a linha que separa Bruce Wayne do palhaço do crime é tênue. Ao trazer essa questão através de um personagem que testa essas fronteiras nas ações de outros personagens que publicamente são vistos e, em parte, se vêem como símbolos de retidão moral (Gordon, Batman e Harvey Dent), Nolan propõe com um longa de entretenimento fazer uma interessante análise social. 

Batman: O Cavaleiro das Trevas, a princípio, um filme de super-herói, traz um protagonista que questiona a sua própria definição enquanto tal. Tudo isso faz o longa transcender no tempo e ser abraçado pelas mais diversificadas plateias possíveis, desde o fã de HQs que reconhece a proposição temática em clássicos cultuados como A Piada Mortal até o público mais ranheta e exigente com esse tipo de material. Não é à toa que a exclusão de Batman: O Cavaleiro das Trevas (e Wall-E) da lista de indicados ao Oscar de melhor filme em 2009 (o filme recebeu 8 indicações) fez jornais americanos questionarem as normas de votação da Academia de Hollywood, o que ampliou o número máximo de indicados na categoria principal para 10 no ano seguinte a fim de aumentar as chances de longas como o filme de super-herói de Nolan conquistar uma vaga no prêmio. É certo que a Academia segue devendo ao gênero (ou o mesmo não conseguiu nada que se equiparasse àquele filme), mas Batman: O Cavaleiro das Trevas impôs respeito a um tipo de produção que antes era tratado por algumas instâncias de consagração como mero escapismo. 


3º. Sombrio e realista, sim

Batman: O Cavaleiro das Trevas coloca uma "pá de terra" em cima do clichê argumentativo da geração Marvel vs. DC de que, no entretenimento, filmes com tons sombrios e realistas não dão certo e que somente a chave do humor descompromissado faz obras baseadas em HQs de super-heróis decolarem. O longa de Nolan segue relevante e referencial por compreender que para entreter não é urgente infantilizar seu conteúdo. Histórias de super-heróis podem ser sérias, pesadas e realistas sem que isso contrarie a lógica de efeitos da diversão que ela pode proporcionar. Batman: O Cavaleiro das Trevas é uma obra escapista, mas que não sacrifica a coerência do universo do seu personagem, que demanda abordagens mais sombrias, e não mutila o anseio do seu cineasta de propor com elas reflexões diversas sobre a sociedade, como elencamos nos dois tópicos anteriores. 


4º. Nada de CGI!

Pouquíssimos efeitos digitais foram utilizados em Batman: O Cavaleiro das Trevas. A orientação de Nolan em seus filmes sempre foi por priorizar os efeitos práticos e utilizar a computação gráfica naquilo que seria praticamente impossível simular nos sets - o rosto de Duas Caras no terceiro ato, por exemplo. Explosões, perseguições, veículos e tomadas realizadas no arranha-céu de Hong Kong ou nas cidades que serviram de locação para Gotham City passam para o espectador uma credibilidade no universo construído pelo diretor que os filmes de super-heróis contemporâneos recorrendo ao CGI quase que em sua totalidade não conseguem. O resultado são sequências espetaculares como o memorável prólogo do assalto ao banco empreendido pelo Coringa, a captura de Lao pelo Batman em Hong Kong ou a perseguição do vilão de Heath Ledger ao veículo que transportava Harvey Dent. A impressão de artificialidade do CGI certamente empobreceria esses momentos. 


5º. Elenco completamente aproveitado

Diferente de uma prática que vemos cada vez mais frequente, seja na Marvel Studios ou na própria Warner com seus projetos baseados nos personagens da DC Comics, Batman: O Cavaleiro das Trevas aproveita todo o seu elenco estelar. Não temos grandes atores subaproveitados como Michelle Pfeiffer no recente Homem-Formiga e a Vespa. De Christian Bale aos premiados Michael Caine e Morgan Freeman, passando por jovens talentos da época como Aaron Eckhart e Maggie Gyllenhaal, todos têm o seu momento no filme. Mesmo Gyllenhaal, que entrou substituindo Katie Holmes, conseguiu ser peça fundamental de um roteiro que pensou em cada um dos seus personagens como elementos importantes numa trama arquitetada pelo Coringa. Por sinal, temos em Batman: O Cavaleiro das Trevas um vilão memorável interpretado por Heath Ledger. Sem a necessidade de motivações para a sua vilania, ou melhor, encontrando-as no propósito de simplesmente propagar o caos e a anarquia, a presença do personagem de Ledger é magnética e sua interpretações uma das mais formidáveis que o gênero já proporcionou.

Assista ao trailer de Batman: O Cavaleiro das Trevas:


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