Demora muito pouco para que a verdadeira vocação de Oito Mulheres e um Segredo surja para o espectador. Além de frisar a questão de gênero na sucessão de todo o seu elenco principal de Onze Homens e um Segredo por atrizes e isso dialogar com preocupações efervescentes política e comercialmente na indústria, Oito Mulheres e um Segredo não segue as marcas de um cineasta, tampouco se preocupa com a costura de uma trama de roubo bem elaborada a ponto de nos impressionar com as ações das suas personagens. Após o fim da trilogia Onze Homens e um Segredo, esta nova possibilidade que acena para a franquia quer simplesmente oferecer puro entretenimento, azeitado pelo magnetismo e carisma do seu elenco formidável de atrizes.
O filme começa com Debbie Ocean, personagem de Sandra Bullock, liberada da prisão após cumprir pena por um plano mal sucedido de roubo. Não demora muito para que ela recrute um grupo de mulheres para empreender um novo plano, roubar um colar valiosíssimo. Para tanto, Ocean e sua equipe utilizará como meio Daphne Kluger, uma celebridade que desfilará pelo famoso baile Met Gala, realizado anualmente em Nova York.
Possivelmente uma das melhores escalações da indústria nos últimos anos para um filme, Oito Mulheres e um Segredo impressiona nesse quesito não pelo star power dos seus nomes, mas pela heterogeneidade das trajetórias do grupo quando postas lado a lado. Sandra Bullock, Cate Blanchett, Anne Hathaway, Helena Bonham Carter, Sarah Paulson, Mindy Kaling, Awkwafina e Rihanna seguiram trajetórias completamente diferentes em suas respectivas carreiras e possuem linhas de trabalho e personas fora das telas igualmente distintas, o que contribui e muito para o filme lhes presentear com personagens marcadas por características e contextos singulares, tornando-as um coletivo interessante quando estão juntas em cena. Claro que todas são grandes nomes, bem diferente do elenco masculino central de Onze Homens e um Segredo de 2011, mas se pararmos para pensar é muito mais fácil definirmos as diferenças entre Sandra Bullock e Cate Blanchett, por exemplo, do que Brad Pitt e Matt Damon. A heterogeneidade do elenco, portanto, é um ponto alto e possivelmente aquele que redime o filme das suas fragilidades.
O roteiro tem falhas severas. Por um lado, Oito Mulheres e um Segredo é bem honesto com o seu espectador e vai direto ao ponto, não mascara que existe para atender a uma onda de consciência da indústria: ser comprometido com a representatividade nas telas. Isso é politicamente importante, especialmente após as acusações de assédio e estupro na Hollywood da era Weinstein, mas também lucrativo e os estúdios já tomaram consciência disso - e não há problema nenhum nisso, diga-se de passagem. O problema é que o filme parece não desejar se esforçar para construir bases sólidas no imaginário do espectador, opta pela ação e não pelo desenvolvimento de uma boa trama que nos leve a ela. Assim, é um filme de roubo que vai direto ao ponto, nos oferecendo de cara exatamente aquilo que queremos ver, o seu elenco em ação arquitetando o roubo de joias em questão. Isso é positivo, afinal demonstra que o longa não quer perder tempo com pretensões que não consegue sustentar, ele é simples e direto. No entanto, é um caminho que tem suas fragilidades já que o plano de roubo do grupo de Debbie Ocean não é dos mais elaborados que já vimos no gênero. Sem contar que os plot twists típicos do formato aqui não surpreendem o espectador, especialmente àqueles que pertence ao terceiro ato da história e que envolve uma personagem que todos sabíamos participar dos planos do grupo, ainda que o longa trate tudo como uma grande revelação.
O filme tem uma direção protocolar de Gary Ross (de Jogos Vorazes e A Vida em Preto e Branco). No final das contas, o show é todo do grupo de atrizes que, parece se divertir bastante com o projeto. Não adianta forçar comparações com o Onze Homens e um Segredo de 2001 - que, vejam bem, já era um remake. É claro que esse filme soa pouco "espontâneo" em tempos nos quais Hollywood praticamente vive de filmes de super heróis e "rebootando" velhas e queridas franquias, mas entre erros e acertos Oito Mulheres e um Segredo é um filme charmoso e sincero com o seu espectador, não incorrendo no erro de maquiar algo que ele não é.
Ocean's Eight, 2018. Dir.: Gary Ross. Roteiro: Gary Ross e Olivia Milch. Elenco: Sandra Bullock, Cate Blanchett, Anne Hathaway, Helena Bonham Carter, Sarah Paulson, Mindy Kaling, Rihanna, Awkwafina, Richard Armitage, James Corden. Warner, 110 min.
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