O desabrochar da
homossexualidade masculina na adolescência foi tema de filmes de variadas propostas em 2018. Do romance oscarizado Me
Chame pelo seu Nome ao high school
Com Amor, Simon, a temática está em voga e da melhor maneira possível, todos são títulos muito bons dentro dos seus respectivos nichos e gêneros. Ratos de Praia da roteirista e diretora Eliza
Hittman (de Parece Amor) faz coro a esta filmografia e chega ao grande público brasileiro, após
passar por alguns festivais, diretamente pela Netflix.
O filme acompanha a
jornada de Frankie, um adolescente do Brooklyn cuja família ainda recompõe os
cacos deixados após o patriarca sofrer bastante com um câncer. Quando
conhecemos o rapaz, o que sabemos é que ele passa a maior parte do dia se divertindo com um grupo
de amigos, ajustando os termos do relacionamento que estabelece com sua
primeira namorada e se aventurando em sites de relacionamento com homens mais
velhos com os quais passa a ter encontros meramente sexuais.
Em seu filme, Hittman
quer abordar as consequências psicológicas de uma homossexualidade reprimida
por uma ótica subjetiva, afinal Frankie vive em completo estágio de negação
criando subterfúgios para não encarar sua própria identidade sexual (um
relacionamento estável heterossexual que não consegue levar adiante na
intimidade, por exemplo). A cineasta não deixa de usar seu protagonista para
abordar o todo, investigando um traço da homofobia e a presença dela como aditivo nas altas
estatísticas de crimes contra homossexuais. Hittman consegue transformar a
jornada de amadurecimento de Frankie num mergulho soturno num grave traço
comportamental que se multiplica na sociedade, um machismo que faz com que
sexualidades sejam reprimidas e não exploradas, trazendo como resultado a
frustração pessoal e, consequentemente, a violência como expressão.
Talvez a mudança na
voltagem de Ratos de Praia seja brusca e
pegue o espectador de surpresa no terceiro ato com as reverberações das
escolhas e omissões de Frankie e a inclusão do seu grupo de amigos na sua "vida secreta", fazendo com que Hittman tenha praticamente dois
filmes em um. De um lado, temos um longa repleto de erotismo na maneira como a
câmera “persegue” o corpo do jovem
Harris Dickinson, mas também feito de silêncios afinal essa
mesma lente está atenta aos mínimos sinais da tensão constante e silenciosa que
o ator surpreendentemente consegue dar conta com olhares e gestos interrompidos, uma atuação
bastante sutil. Do outro lado, o longa também é um filme sombrio, que por
mergulhar fundo demais na psiquê do seu protagonista acaba encontrando seu lado mais soturno.
Beach Rats, 2017. Dir.: Eliza Hittman. Roteiro: Eliza Hittman. Elenco: Harris Dickinson, Madeline Weinstein, Kate Hodge, Neal Huff, Nicole Flyus, Frank Hakaj, David Ivanov, Anton Selyaninov, Harrison Sheehan. Netflix, 98 min.
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