Tully é o segundo encontro da roteirista Diablo Cody, do diretor Jason Reitman e da atriz Charlize Theron. Antes dele, o trio havia feito Jovens Adultos, filme que só foi ganhando o seu público com o tempo e que traz uma ácida crítica à ideia de sucesso nos primeiros anos da vida adulta. A acidez e anarquia de Jovens Adultos (características típicas do texto da Diablo) cedem espaço para a empatia e doçura em Tully na medida em que esse filme faz uma leitura sobre a maternidade.
No filme Theron interpreta Marlo, uma ex funcionária de RH prestes a dar a luz ao seu terceiro filho. Às voltas com a gravidez, os problemas do filho mais velho na escola e exausta da vida doméstica, Marlo aceita a sugestão do irmão e contrata uma babá para ajudá-la durante a noite assim que sua filha mais nova nasce. É dessa maneira que a jovem de vinte e poucos anos Tully entra na vida de Marlo e a faz enxergar uma nova possibilidade de lidar com o caos do cotidiano e as cobranças sociais inerentes à maternidade.
Ajustando discursos, seja aquele que dá conta do "ser mãe" como um verdadeiro paraíso na Terra ou aquele que enxerga com dureza exagerada todo o processo, Tully encontra um meio termo poético ao promover o encontro da personagem de Theron com a babá interpretada por Mackenzie Davis, você deve conhecê-la do episódio San Junipero da terceira temporada de Black Mirror. Ainda que a maneira que a roteirista Diablo Cody encontra para costurar sua afetuosa visão cinematográfica sobre a maternidade não seja nenhuma "invenção da roda", o longa transborda empatia fazendo um estudo sobre a condição da sua protagonista como ele merece ser realizado.
Em Tully a gravidez é um processo exaustivo, que traz consequências físicas e psicológicas para a mulher, mas também capaz de em outros momentos surpreender com as relações afetivas estabelecidas numa via de sentimentos de "mão dupla", ainda que por diversas vezes pareça o contrário, afinal crianças costumam aparentar um egoísmo implacável na dinâmica com seus pais. Ao mesmo tempo em que a personagem de Theron se encontra no limite da sua tolerância com o outro, mesmo quando este outro é o seu filho, e chega a sentir saudade do tempo em que não era casada, a personagem ama imensamente suas três crianças. São por estas emoções complexas que o filme faz sua protagonista transitar.
Em Tully a gravidez é um processo exaustivo, que traz consequências físicas e psicológicas para a mulher, mas também capaz de em outros momentos surpreender com as relações afetivas estabelecidas numa via de sentimentos de "mão dupla", ainda que por diversas vezes pareça o contrário, afinal crianças costumam aparentar um egoísmo implacável na dinâmica com seus pais. Ao mesmo tempo em que a personagem de Theron se encontra no limite da sua tolerância com o outro, mesmo quando este outro é o seu filho, e chega a sentir saudade do tempo em que não era casada, a personagem ama imensamente suas três crianças. São por estas emoções complexas que o filme faz sua protagonista transitar.
Assim, o filme constroi Marlo como uma personagem multidimensional, passível de admiração pelo espectador mas repleta de sentimentos contraditórios e muitos defeitos, todos definidos por ações, reações e palavras bem colocadas pelo texto de Diablo Cody, pela direção de Reitman e pela atuação sensível de Charlize Theron, que, mais uma vez, brilha na parceria com os realizadores. A atriz foge do estereótipo simplificador (e machista) da "mulher à beira de um ataque de nervos" e desenvolve com muito cuidado todas as emoções de Marlo, oferecendo para o espectador um desempenho comovente e repleto de sutilezas.
Tully é um mergulho intenso na psicologia da sua protagonista e é interessante como ele apresenta uma outra Diablo Cody para o seu espectador. Como ocasionalmente ocorre em seus filmes com a roteirista, o diretor Jason Reitman desaparece na tela dada a força do texto do filme e a discrição que costuma caracterizar o trabalho do diretor. Interferindo aqui e ali na maneira como a história é contada, Reitman deixa, assim como em Juno e Jovens Adultos, as palavras da roteirista e dos seus personagens serem os elementos ativos da sua narrativa. No entanto, ao invés da ironia corrosiva dos primeiros anos da carreira de Cody, Tully nos oferece uma outra faceta da artista, sem abrir mão, é claro, da sua clínica crítica a uma sociedade que nos transforma em pessoas repletas de paranoias e carências afetivas. Aqui, além de destruir vidraças, Cody é capaz de ser afetuosa com seu público e com suas personagens, entendendo que a solução para o caos apresentado está na compreensão de que o processo de criação de um filho não deve ser uma jornada solitária vivida pela mulher, "atacando" de maneira eficiente e direta alguns dos principais problemas que gravitam em torno daquilo que gravidez representa socialmente através da ficção.
Tully, 2018. Dir.: Jason Reitman. Roteiro: Diablo Cody. Elenco: Charlize Theron, Mackenzie Davis, Ron Livingston, Mark Duplass, Asher Miles Fallica, Lia Frankland, Gameela Wright, Elaine Tan, Emily Haine, Maddie Dixon-Poirer. Diamond Filmes, 95 min.
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