Produção original da Netflix, a comédia romântica teen A Barraca do Beijo virou um fenômeno popular nas últimas semanas. Como nem sempre popularidade anda de mãos dadas com a qualidade do material, o filme é mais um exemplar que evidencia a falta de cuidado da divisão de filmes da Netflix com suas obras nesse formato, algo que acontece com pouca frequência nas séries, juntando-se ao catálogo sem fim de títulos esquecíveis que incluem as comédias protagonizadas por Adam Sandler.
Baseado no romance best-seller de Beth Reekles, o filme conta a história de uma adolescente que se apaixona pelo irmão do seu melhor amigo e estreita esse relacionamento depois de propor uma barraca do beijo em um evento estudantil. O grande problema é que, desde criança, ela estabeleceu que uma das regras da amizade dos dois é que nenhum deles se relacionaria com parentes do amigo a fim de não estremecer a relação.
Apoiado em algumas estratégias do gênero, óbvio que A Barraca do Beijo tem um público direcionado e ninguém está exigindo do filme um tratamento de "filme de arte" como alguns podem acusar. Acontece que o longa é problemático por duas vias, como estrutura narrativa e naquilo que tem a dizer sobre os temas que convoca. O pior de tudo é que utiliza algumas armas para camuflar seus deslizes.
O roteiro do longa é uma esquisitice à parte. O conflito principal da trama é a regra estabelecida entre os amigos Elle e Lee quando crianças e a quebra dessa promessa quando a garota se apaixona pelo irmão mais velho dele, Noah. Sério! Isso é tratado como uma grande tragédia familiar no filme pelos personagens, como se a garota cometesse um incesto. O grande problema é que em momento algum o espectador é esclarecido sobre a razão da quebra da promessa gerar uma crise na amizade dos protagonistas, ainda que ela esteja presente durante todo o filme atormentando a personagem, e as informações que são dadas ao espectador não o convencem da proporção que tudo aquilo toma.
Esse é só um dos vestígios que evidenciam a ingenuidade com a qual os personagens e suas relações são conduzidas nessa história, fazendo com que a trama não pareça apenas ser dirigida a adolescentes como feita por um que ainda não tem traquejo e maturidade sobre as dinâmicas de qualquer relacionamento (as informações dão conta de que a autora do livro o escreveu quando era adolescente, o que em nada a abona do equívoco). As regras que norteiam as relações dos personagens são esquisitas não apenas nesse ponto, todos agem de maneira estranha na relação com seus corpos e com os corpos dos demais, por exemplo. A câmera do diretor Vince Marcello tem uma obsessão em criar situações que forçam sua protagonista adolescente a tirar a roupa, por sua vez, o galã do filme também aparece com frequência e sem a menor justificativa sem camisa - possivelmente, uma das armas da produção para camuflar os deslizes do seu roteiro.
Esse é só um dos vestígios que evidenciam a ingenuidade com a qual os personagens e suas relações são conduzidas nessa história, fazendo com que a trama não pareça apenas ser dirigida a adolescentes como feita por um que ainda não tem traquejo e maturidade sobre as dinâmicas de qualquer relacionamento (as informações dão conta de que a autora do livro o escreveu quando era adolescente, o que em nada a abona do equívoco). As regras que norteiam as relações dos personagens são esquisitas não apenas nesse ponto, todos agem de maneira estranha na relação com seus corpos e com os corpos dos demais, por exemplo. A câmera do diretor Vince Marcello tem uma obsessão em criar situações que forçam sua protagonista adolescente a tirar a roupa, por sua vez, o galã do filme também aparece com frequência e sem a menor justificativa sem camisa - possivelmente, uma das armas da produção para camuflar os deslizes do seu roteiro.
Como se não bastasse, o longa derrapa na concepção de amor que tenta representar através do relacionamento amoroso de Elle e Noah, mas também da amizade entre ela e Lee. Ambos protagonistas masculinos são extremamente possessivos com a garota e tudo é tratado no longa como uma demonstração do amor que ambos sentem por ela. Lá pelas tantas, o roteiro tenta corrigir a derrapada cometida em quase uma hora e quarenta de duração da história com uma fala da personagem que anuncia sua libertação das amarras que a vinculavam a um deles para imediatamente ceder aos encantos do outro, passando uma borracha em seu comportamento agressivo. Não é surpreendente (mas assusta) que em tempos de Cinquenta Tons de Cinza seja esse tipo de representação de um relacionamento amoroso que esteja fazendo a cabeça de uma geração teen.
The Kissing Booth, 2018. Dir.: Vince Marcello. Roteiro: Vince Marcello. Elenco: Joey King, Joel Courtney, Jacob Elordi, Molly Ringwald, Bianca Bosch, Jessica Sutton, Meganne Young, Byron Langley. Netflix, 105 min.
Assista ao trailer:
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