Uma Dobra no Tempo sofre uma dificuldade comum que seu tipo de narrativa costuma passar quando levada para uma audiência mais ampla, o desafio de orquestrar um universo fantástico tão "imaterial" que contempla conceitos da física e da filosofia sem torná-lo ininteligível para o público com os mais diversificados repertórios que irá consumi-lo. Baseado no romance de Madeleine L'Engle, o filme conta a história de uma garota que empreende uma jornada com três viajantes para resgatar o seu pai, um astrofísico desaparecido por quatro anos.
Por trás da história de L'Engle há uma série de conceitos e lugares que representam os mesmos mais do que simplesmente servir de cenário para uma ação Como realização cinematográfica, isso costuma ser difícil de adaptar para um filme como o da diretora Ava DuVernay pretende ser como produto. Se aventurando no gênero após conduzir Selma e o documentário A 13ª Emenda, DuVernay apresenta em Uma Dobra no Tempo uma série de ideias sobre viagem no universo e jornadas de autodescoberta e aceitação que fazem da aventura da protagonista Meg Murry algo muito mais complexo do que uma literal aventura infanto-juvenil como seu estúdio costuma fazer.
No esforço de tornar todo esse material compreensível para o seu público, a adaptação de Ava DuVernay acaba se transformando num filme que não é palatável como mero escapismo, tampouco mergulha a fundo na densidade que seus temas parecem sugerir. Esse meio termo acaba afetando severamente o resultado de Uma Dobra no Tempo, que resulta numa adaptação esquisita, soando melodramática e simples ao convocar o espectador afetivamente com seu drama familiar, mas em outros momentos excêntrica demais ao jogar seus personagens em cenários habitados por representações que parecem ter a timidez de abraçar sua faceta metafórica e repleta de aberturas filosóficas.
Como é apresentado, Uma Dobra no Tempo acaba sendo um filme que enche os olhos, visto o esmero com o qual cada detalhe dos seus cenários, figurinos e efeitos especiais são tratados. Também cabe elogiar o desempenho dos seus atores, em especial a garota Storm Reid, que protagoniza momentos de genuína emoção (uma cena em particular como o ator Chris Pine), Reese Whiterspoon como a simpática Sra. QueÉ e a grande atração, o garoto Deric McCabe, que vive o irmão mais novo da protagonista. É uma pena que estas qualidades não sejam o suficiente para tornar o longa uma grande obra, talvez no patamar que a própria DuVernay tinha o potencial de realizar. Se, por um lado, o suporte da Disney trouxe a possibilidade do esmero técnico e estético que o longa apresenta, por outro, ser abrigado por um grande estúdio trouxe algumas amarras inevitáveis ao produto final.
A Wrinkle in Time, 2018. Dir.: Ava DuVernay. Roteiro: Jennifer Lee e Jeff Stockwell. Elenco: Storm Reid, Chris Pine, Oprah Winfrey, Reese Whiterspoon, Mindy Kaling, Deic McCabe, Levi Miller, Gugu Mbatha-Raw, Zach Galifianakis, Michael Peña, André Holland, David Oyelowo, Conrad Roberts, Rowan Blanchard. Disney, 109 min.
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