Quando o assunto é Oscar, Jake Gyllenhaal definitivamente não tem sorte. Com apenas uma indicação ao prêmio no bolso (melhor ator coadjuvante por O Segredo de Brokeback Mountain em 2006), Gyllenhaal é conhecido como um dos mais competentes da sua geração, colhendo elogios e um grupo de fãs por suas marcantes interpretações em filmes como O Abutre, Zodíaco, Marcados para Morrer, O Homem Duplicado e Os Suspeitos. Nem mesmo quando faz trabalhos, aparentemente, com o claro intuito de chamar a atenção da Academia, como foi o caso de Nocaute ou Demolição, Gyllenhaal é finalista no prêmio.
O que te faz mais forte pertence ao segundo grupo de filmes da carreira do ator. Não é tão sombrio quanto O Abutre, não está isolado na bolha de um gênero pouco lembrado na tradição das premiações como Zodíaco e Os Suspeitos, nem tão alegórico ou divisivo quanto O Homem Duplicado. O longa conta uma história de superação contada de uma maneira que costuma ter a receptividade dos votantes das premiações, com tons levemente melodramáticos. No entanto, como qualquer grupo de recepção, o destino de O que te faz mais forte foi marcado pelo imprevisto.
As conversas sobre o filme como um forte candidato a prêmios ficaram restritas ao Festival de Toronto, por onde foi exibido em setembro de 2017. Apesar das boas críticas, a carreira do longa foi tímida na sua estreia comercial, o que fez com que suas chances em premiações como o Oscar se diluíssem frente aos seus concorrentes, frustrando as expectativas dos fãs do ator. Isso só nos lembra como essa ideia de "filme pra Oscar" não faz muito sentido. O que te faz mais forte é isca para Oscar na percepção mais superficial que se tem sobre aquilo que atrai o corpo de votantes da premiação. No entanto, seu resultado nos faz lembrar como nem sempre seguir fórmulas é garantia de algum resultado na recepção da obra pela Academia.
O que te faz mais forte narra a trajetória de Jeff Bauman, um jovem comum que teve sua vida transformada após se tornar uma das vítimas do fatídico atentado na maratona de Boston de 2013. Jeff esteve no evento para assistir o desempenho da sua ex-namorada na corrida. Quando a bomba explodiu, o rapaz perdeu suas pernas e por ação de veículos de comunicação de todo o país acabou se transformando num herói nacional.
Jake Gyllenhaal está ótimo, mas nada que já não esperássemos de um ator que fez o que fez em trabalhos bem mais complicados, como O Abutre, por exemplo. Além dele, é injustiça não destacar os desempenhos aplicados das atrizes Tatiana Maslany e Miranda Richardson, intérpretes da namorada e mãe do protagonista respectivamente.
À primeira vista, O que te faz mais forte é um longa protocolar com mensagens de superação das adversidades da vida e o roteiro de John Pollono, baseado nas memórias do próprio protagonista e aparado em seu apelo emocional por uma direção nada apelativa de David Gordon Green (de Especialista em Crise e Joe), vai por esse caminho. É interessante notar, contudo, como em meio à fórmula de extrair o máximo de lição de vida da biografia do seu protagonista, com todos os chavões que o gênero tem direito, O que te faz mais forte procura um olhar crítico para um tema que acaba convocando, a obsessão que os americanos têm pela figura do herói num esforço de conferir algum sentido aos resultados das questionáveis políticas bélicas do país.
Jeff Bauman, um homem absolutamente comum, extremamente falho como indivíduo, é transformado em herói, com todos os privilégios conferidos a quem é considerado como tal. Como resultado, ele e suas relações pessoais são profundamente afetadas. Quando O que te faz mais forte procura fazer esse recorte, o filme diz mais a que veio do que quando procura muletas melodramáticas ou "joga para a plateia", como ocasionalmente faz para conquistar uma audiência mais conservadora.
Stronger, 2017. Dir.: David Gordon Green. Roteiro: John Pollono. Elenco: Jake Gyllenhaal, Tatiana Maslany, Miranda Richardson, Richard Lane Jr., Nate Richman, Lenny Clarke, Patty O'Neill, Clancy Brown, Kate Fitzgerald. Paris Filmes, 119 min.
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