Mais recente longa de Todd Haynes (Carol e Não Estou Lá), Sem Fôlego é baseado num livro homônimo de Brian Selznick, o mesmo autor de A Invenção de Hugo Cabret, que ganhou vida nas telas pelo diretor Martin Scorsese em 2012. Selznick, por sinal, roteiriza o longa de Haynes. Assim como no filme dirigido por Martin Scorsese, Sem Fôlego vive às voltas com a jornada de crianças - aqui são duas, uma garota nos anos 1920 e um menino na década de 1970 - tentando se encontrar através de um mergulho profundo nas suas origens após terríveis incidentes familiares. Assim como Hugo, Sem Fôlego também traz em algum nível o apreço de Selznick pelo cinema já que a história da garotinha dos anos de 1920 acaba atravessando o caminho de uma atriz de cinema mudo interpretada por Julianne Moore, em sua quarta colaboração com Haynes (Mal do Século, Longe do Paraíso e Não Estou Lá).
Os protagonistas de Sem Fôlego também estão às voltas com a surdez, o que faz com que o filme em determinadas passagens (toda a década de 1920 praticamente) adote um tom de cinema mudo ou utilize de maneira inteligente a presença ou a ausência do som em sua narrativa. De maneira geral, Sem Fôlego é marcado por essas decisões conscientes de Todd Haynes e sua equipe, de um lado a montagem estabelece uma dinâmica interessante entre as alternâncias das décadas e as semelhanças entre as jornadas da criança, do outro, escolhas da direção de arte (a cena final que põe os personagens numa maquete de Nova York) e da fotografia (o preto e branco evocando o passado do cinema) demonstram uma sofisticação mais do que esperada do seu cineasta.
No entanto, todo esse belíssimo "arranjo" de Sem Fôlego não é o suficiente para manter o espectador preso a sua história que demora a engrenar e faz com que o público questione até o último momento onde Haynes e seu roteirista querem chegar com sua história, que, sim, é bonita, possuindo um inegável apelo dramático, mas que se revela levemente banal no seu desfecho. Ao final, o filme deixa o espectador se questionando o que nessa história teria chamado a atenção de um cineasta com um currículo tão peculiar e obcecado por determinadas temáticas e gêneros quanto Todd Haynes. A história de Sem Fôlego não tem uma trama que faça jus às sempre inteligentes e sensíveis decisões técnicas e estéticas dos filmes do realizador e que aqui se fazem presentes.
O trio infantil tem um ótimo trabalho, mas nada que salte os olhos. De marcante mesmo, temos o desempenho de Julianne Moore que aparece pouco, mas surge versátil e sempre inspirada em cena. No mais, é um filme com o habitual know how do seu diretor, mas que no final das contas está muito atrás de alguns dos seus mais inspirados e inspiradores trabalhos.
Wonderstruck, 2017. Dir.: Todd Haynes. Roteiro: Brian Selznick. Elenco: Oakes Fegley, Millicent Simmonds, Jaden Michael, Julianne Moore, Michelle Williams, Cory Michael Smith, James Urbaniak, Damian Young, Patrick Murnay. H2O Filmes, 116 min.
Assista ao trailer:
COMENTÁRIOS