Quem se lembra da safra de filmes de 2010 que protagonizaram a temporada de premiações de 2011? Foi uma das melhores temporadas de prêmios nos últimos anos. Tínhamos A Rede Social, um filme revolucionário na carreira de David Fincher. Christopher Nolan saiu de Batman: O Cavaleiro das Trevas e impressionou a todos com o seu engenhoso quebra-cabeça da mente humana A Origem. Darren Aronofsky fez junto com a atriz Natalie Portman o cultuado Cisne Negro. Crianças e adultos se emocionaram junto com a doçura de Toy Story 3. (Havia também O Discurso do Rei, que venceu o Oscar de melhor filme, mas esse preferimos nem comentar rsrsrs).
Nesse mesmo ano glorioso, o Globo de Ouro cometeu uma das suas maiores gafes e que cimentou de vez sua má fama, sobretudo quando o ponto em discussão é sua famigerada categoria comédia ou musical.
Anos atrás, logo quando o Globo de Ouro começou a entregar os seus prêmios, a categoria se justificava comercialmente tendo em vista a profusão de musicais que tomavam as salas de cinema. Os estúdios precisavam que alguma instância de consagração os reconhecesse num mesmo patamar de relevância que os dramas. Atualmente, a categoria se tornou um supérfluo, quase sempre um lugar onde os estúdios escoam filmes que eles temem não ter oportunidade de indicação como melhor filme drama por razões diversas (como a concorrência acirrada de outros títulos com mais chamariz), investindo dinheiro pesado em campanhas para longas como Corra! ou Perdido em Marte (filmes que tem ocasionalmente elementos cômicos, mas que não são comédia) nesta categoria.
Anos atrás, logo quando o Globo de Ouro começou a entregar os seus prêmios, a categoria se justificava comercialmente tendo em vista a profusão de musicais que tomavam as salas de cinema. Os estúdios precisavam que alguma instância de consagração os reconhecesse num mesmo patamar de relevância que os dramas. Atualmente, a categoria se tornou um supérfluo, quase sempre um lugar onde os estúdios escoam filmes que eles temem não ter oportunidade de indicação como melhor filme drama por razões diversas (como a concorrência acirrada de outros títulos com mais chamariz), investindo dinheiro pesado em campanhas para longas como Corra! ou Perdido em Marte (filmes que tem ocasionalmente elementos cômicos, mas que não são comédia) nesta categoria.
(Modo ironia. Pausa para os momentos de comédia de Corra! e Perdido em Marte, respectivamente)
Na pior das hipóteses, a categoria comédia ou musical se transforma numa oportunidade para o Globo de Ouro bajular grandes estúdios e estrelas, como aconteceu em 2010.
Em 2010, Johnny Depp estava no auge da sua carreira, muito antes de ter se tornado persona non grata pelo público após seu escândalo de agressão contra a ex-esposa Amber Heard. Seu nome ainda era sinônimo de grandes bilheterias e uma das maiores provas disso foi o sucesso de Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton, que era um filme sobre a Alice de Mia Wasikowska, mas que tinha Johnny Depp como o Chapeleiro Maluco e a Disney enfiou o ator no centro de todo o material de divulgação do longa:
A Alice está ali no canto esquerdo, se não notou (não julgo).
Aqui, ela nem existe, só no título. Sério, tinha alguma coisa de muito errada nesses pôsteres...
A questão é que, apesar da crítica ter desaprovado o resultado de Alice no País das Maravilhas, o filme se transformou num hit de bilheterias de 2010, ultrapassando a marca do US$ 1 bilhão mundialmente, e virou um fenômeno pop da sua época, rendendo souvenirs de toda sorte, festas temáticas, fantasias de Halloween e inspirações para estilistas renomados. Era o último grito da moda.
Só se falava de Alice no ano de 2010.
Só se falava de Alice no ano de 2010.
Sobre Depp, a única coisa que podemos nos lembrar é de que, mais uma vez, víamos o ator num dos seus tipos excêntricos com um visual que rendeu memes do tipo:
Vocês acham que o Globo de Ouro perderia a oportunidade de ter Alice no País das Maravilhas entre seus indicados? Claro que não! Pois o filme foi nomeado a três categorias: melhor trilha sonora original (certamente o mais justo dos prêmios), melhor ator em comédia/musical (Johnny Depp) e melhor filme em comédia/musical.
No mesmo ano de Alice, Depp também esteve em O Turista, um filme que reuniria o ator com outro nome tão grande quanto o seu na ocasião, Angelina Jolie. O filme não foi lançado no verão americano como Alice, estreando em dezembro, o que fez com que os organizadores do Globo de Ouro só percebessem o constrangimento das três indicações ao filme depois que suas críticas saíram. O Turista foi lembrado na cerimônia do Globo de Ouro de 2011 como melhor filme em comédia/musical, melhor ator em comédia/musical (Johnny Depp) e melhor atriz em comédia/ musical (Angelina Jolie).
Pronto. Mais um engodo no Globo de Ouro 2011 e na categoria comédia/musical.
Pronto. Mais um engodo no Globo de Ouro 2011 e na categoria comédia/musical.
Porém, compreensível. Os votantes do Globo, como esclarece insistentemente jornalistas como Sasha Stone do site Awards Daily, que cobre há mais de dez anos a temporada de prêmios, adoram contar vantagens sobre os privilégios que têm ao participar de grandes festas ou eventos promovidos pelos estúdios para divulgar seus filmes, promovendo encontros com suas estrelas. Muitos deles nem se interessam por cinema ou cobrem a área de fato. Alguns fazem a cobertura para veículos de entretenimento, destinado a fofocas de celebridades, por exemplo. E você reclamando do Oscar...
Assim, os apelos de O Turista estavam sendo gestados antes mesmo do filme ser finalizado, às vésperas da sua estreia. Era a reunião de duas iscas de votantes do Globo de Ouro na época. Que programa não iria querer ter Johnny Depp e Angelina Jolie no red carpet?
Assim, os apelos de O Turista estavam sendo gestados antes mesmo do filme ser finalizado, às vésperas da sua estreia. Era a reunião de duas iscas de votantes do Globo de Ouro na época. Que programa não iria querer ter Johnny Depp e Angelina Jolie no red carpet?
Com uma audiência do Globo de Ouro cada vez mais em baixa, era difícil resistir aos apelos. Sério, gente, quem assistiu sabe que O Turista não é uma comédia, um musical e muito menos um bom filme, o longa não consegue proporcionar diversão nem mesmo aos envolvidos.
Ainda assim, O Turista esteve no Globo de Ouro como melhor comédia/musical do ano. Mais interessado que na qualidade da obra, os organizadores do Globo de Ouro estava mesmo querendo render um Big Brother da reservada família Jolie-Pitt com registros como esses ao vivo na cerimônia. Espertinhos eles.
Ainda assim, O Turista esteve no Globo de Ouro como melhor comédia/musical do ano. Mais interessado que na qualidade da obra, os organizadores do Globo de Ouro estava mesmo querendo render um Big Brother da reservada família Jolie-Pitt com registros como esses ao vivo na cerimônia. Espertinhos eles.
Agora, vamos para outro nível da conversa.
Em termos numéricos, Hollywood já não faz mais musicais como antes, ao menos não em escala industrial. Então, quando um título do gênero estreia no ano, parece que o Globo de Ouro se sente na obrigação de nomeá-lo por ter uma categoria chamada comédia/musical. Esse foi o caso desse ano com O Rei do Show, apesar do musical de Hugh Jackman correr léguas do desastre que representou a indicação do Globo de Ouro que vamos comentar a seguir.
Em 2010, um musical protagonizado por Christina Aguilera, estreando nos cinemas, e Cher, retornando às telonas, cuja bilheteria nos EUA não pagou o seu orçamento de quase US$ 40 milhões, foi indicado ao Globo de Ouro como melhor filme comédia/musical e teve duas canções nomeadas ao prêmio. Estamos tratando de Burlesque.
Se você não assistiu, não julgamos. Fez bem.
Se você não assistiu, não julgamos. Fez bem.
Possivelmente um dos musicais mais constrangedores dos últimos anos, o filme trazia Aguilera como uma moça do interior que tenta a sorte no mundo dos espetáculos da cidade grande. Falava-se na estreia da cantora, mas tudo o que a gente e os votantes do Globo pensavam era:
O retorno de Cher foi antecipado e esperado por todos e, a partir das primeiras imagens do filme, se criou a expectativa de que Burlesque trouxesse a atmosfera dirty, dangerous and sexy de Chicago, único musical vencedor do Oscar entre os filmes do gênero da safra mais recente. Mas, tudo o que conseguimos foi isso:
E esta cena non sense do ator Cam Gigandet sensualizando para a Aguilera com cookies:
Completavam a lista de comédia/musical daquele ano, filmes que, ao menos, honravam suas nomeações, RED: Aposentados e Perigosos e Minhas Mães e Meu Pai.
Por decisão sensata dos votantes do Globo de Ouro, Minhas Mães e Meu Pai venceu a premiação, possivelmente com uma ampla vantagem diante de seus concorrentes.
Desde então, nunca vimos uma seleção como a de 2011 na premiação.
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