O Globo de Ouro acontecerá no domingo (07) e ele costuma ser conhecido como uma premiação que antecipa o resultado do Oscar. Levando em consideração o seu corpo de votantes (muito diferente da Academia) e todas as questões que isso implica, esta é uma impressão levemente equivocada. É certo que os votantes do Globo de Ouro, assim como os do Oscar, respondem a um clima de opiniões do momento em que estão votando e o mesmo costuma ser favorável a um dado filme por "n" motivos. No entanto, existem variáveis que podem diferenciar as escolhas do Oscar e do Globo de Ouro, entre elas, a já citada diferença de perfis dos votantes (aqui, imprensa estrangeira, lá, profissionais do campo cinematográfico), assim como seu número (sensivelmente reduzido no Globo de Ouro se comparado a quantidade de pessoas que votam no Oscar), bem como o período de votação (variando de um a dois meses de diferença - e, de lá para cá, o clima de opiniões pode mudar bastante). As campanhas cada vez mais agressivas também demonstram ser um game changer das temporadas
Sendo assim, a situação na qual o Globo de Ouro não segue o Oscar é sempre possível de existir. Confira abaixo os momentos na história recente do Globo de Ouro em que os escolhidos como melhor filme não coincidiram com as escolhas da Academia de Hollywood:
2016
Globo de Ouro: O Regresso (foto) e Perdido em MarteE o Oscar foi para... Spotlight: Segredos Revelados
Muitos prêmios da temporada foram para O Regresso, de Alejandro González Iñárritu, incluindo o Globo de Ouro de melhor filme na categoria drama. O ponto de virada da temporada foi a vitória de Spotlight no SAG e a sensação de que depois de Birdman vencer o Oscar na temporada anterior, premiar mais uma obra de Iñárritu seria demais. No Globo de Ouro, o longa de Iñárritu foi indicado junto com Spotlight como drama. Em comédia/musical, venceu Perdido em Marte. Apesar da derrota no Oscar, O Regresso levou 3 estatuetas na premiação, incluindo melhor direção, a segunda consecutiva para Iñárritu. Spotlight por sua vez só levou dois Oscars, filme e roteiro original. Não podemos dizer que O Regresso foi tão perdedor assim.
2015
Globo de Ouro: O Grande Hotel Budapeste (foto) e Boyhood: Da Infância à Juventude
E Oscar foi para... Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Grande concorrente de Birdman na categoria comédia/musical do Globo de Ouro, O Grande Hotel Budapeste levou quatro Oscars, uma estatueta a menos que o longa de Alejandro González Iñárritu, mas não faturou o prêmio de melhor filme pelos votantes da Academia. Naquele ano, no entanto, as apostas estavam direcionadas para Boyhood: Da Infância à Juventude, que levou o Globo de Ouro como melhor filme na categoria drama, mas no Oscar teve que se contentar apenas com o prêmio de melhor atriz coadjuvante para Patricia Arquette.
2011
Globo de Ouro: A Rede Social (foto) e Minhas Mães e Meu Pai
E o Oscar foi para... O Discurso do Rei
Quando 2011 nos indicava que David Fincher poderia finalmente levar um Oscar por A Rede Social, eis que o hiato entre o Globo de Ouro e a premiação da Academia abriu uma brecha para o tradicional O Discurso do Rei faturar o prêmio de melhor filme. A Rede Social levou três Oscars (roteiro adaptado, montagem e trilha sonora original), enquanto que O Discurso do Rei faturou quatro estatuetas (filme, direção, roteiro original e ator). Ambos concorreram como melhor drama no Globo de Ouro. Naquele ano, Minhas Mães e Meu Pai venceram o Globo de melhor filme comédia/musical.
2010
Globo de Ouro: Avatar (foto) e Se Beber, Não Case
E o Oscar foi para... Guerra ao Terror
Ao contrário do Oscar, o Globo de Ouro cedeu aos apelos de revolução tecnológica e à bilheteria do hit Avatar, de James Cameron. O Oscar, por sua vez, preferiu a contundência política do drama de guerra Guerra ao Terror de Kathryn Bigelow, vencedor de seis estatuetas na ocasião. Na premiação da Academia, Avatar venceu três estatuetas (fotografia, efeitos visuais e direção de arte), enquanto que Guerra ao Terror faturou seis prêmios, incluindo os de categorias centrais da premiação (filme, direção, montagem e roteiro original). Em comédia/musical, O Globo de Ouro laureou Se Beber, Não Case, que sequer chegou perto dos prêmios da Academia.
2008
Globo de Ouro: Desejo e Reparação (foto) e Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet
E o Oscar foi para... Onde os fracos não têm vez
A seleção da temporada de prêmios de 2008 foi uma das melhores que já tivemos em tempos recentes e qualquer vitória ali, por mais que tenhamos nossas preferências, não faria feio. Num ano em que sequer tivemos cerimônia em função da greve dos roteiristas, Desejo e Reparação levou o prêmio de melhor filme em drama, vencendo o ganhador do Oscar daquele ano Onde os fracos não têm vez dos irmãos Coen. No Oscar, Desejo e Reparação só venceu o prêmio de melhor trilha sonora original, enquanto que o filme dos Coen levou quatro estatuetas. Em comédia/musical, o escolhido foi Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, que tinha a concorrência pesada de Juno.
2007
Globo de Ouro: Babel (foto) e Dreamgirls: Em Busca de um Sonho
E o Oscar foi para... Os Infiltrados
Enquanto que a Academia cedeu enfim aos apelos de premiar finalmente o injustiçado por tantas vezes no Oscar Martin Scorsese com seu trabalho em Os Infiltrados, o Globo de Ouro foi de Babel na categoria melhor filme drama. Aliás, esse foi o único prêmio que o filme de Alejandro González Iñárritu levou naquele ano. Os Infiltrados fez a festa na edição do Oscar de 2007 levando estatuetas em todas as categorias que recebeu indicação, exceto ator coadjuvante (Mark Wahlberg). No entanto, o que mais impressiona naquele ano é que um dos filmes de maior impacto cultural daquela temporada não teve destaque no Globo de Ouro, Pequena Miss Sunshine perdeu o prêmio de melhor comédia/musical para Dreamgirls. No Oscar, a situação foi bem diferente, Dreamgirls sequer foi indicado a melhor filme, enquanto Pequena Miss Sunshine levou dois prêmios (melhor roteiro e ator coadjuvante para Alan Arkin).
2006
Globo de Ouro: O Segredo de Brokeback Mountain (foto) e Johnny & June
E o Oscar foi para... Crash: No Limite
Numa temporada em que todos apontavam para uma vitória de O Segredo de Brokeback Mountain, inclusive no Oscar, o Globo de Ouro seguiu o fluxo e concedeu ao filme de Ang Lee o prêmio de melhor filme na categoria drama. Pasmem, Crash: No Limite, grande vencedor daquela edição do Oscar, sequer foi indicado ao Globo de Ouro de melhor filme, recebendo no prêmio menções apenas nas categorias roteiro e ator coadjuvante (Matt Dillon). No Oscar, o cenário foi mais favorável ao filme de Paul Haggis, que ganhou fôlego e até torcida para faturar o prêmio de melhor filme nos bastidores da votação. Em comédia/musical o premiado do Globo de Ouro foi Johnny & June, que só venceu o Oscar de melhor atriz para Reese Whiterspoon.
2005
Globo de Ouro: O Aviador (foto) e Sideways: Entre umas e outras
E o Oscar foi para... Menina de Ouro
O lançamento "tardio" de Menina de Ouro em dezembro de 2004 não favoreceu uma vitória sua no Globo de Ouro. Diferente de O Aviador, o seu principal concorrente na temporada, Menina de Ouro teve um favoritismo que promoveu uma virada de jogo naquele ano. Apesar das cinco vitórias no Oscar, todos esperavam que por O Aviador ser uma superprodução biográfica fosse garantir finalmente o prêmio da Academia a Scorsese. A escolha do Globo de Ouro vai, inclusive, nesse sentido, tentar ir no fluxo daquilo que se esperava do Oscar. A derrota de O Aviador nos prêmios de filme e direção, inclusive, cimentaram terreno para seu favoritismo no ano de Os Infiltrados. Em 2005, Sideways de Alexander Payne, também indicado ao Oscar de melhor filme, venceu o Globo de Ouro na categoria comédia/musical.
1996
Globo de Ouro: Razão e Sensibilidade (foto) e Babe: O Porquinho Atrapalhado
E o Oscar foi para... Coração Valente
Por um hiato de quase dez anos, as escolhas do Globo de Ouro e do Oscar coincidiram, seja em drama (Titanic em 1998), seja em comédia/musical (Shakespeare Apaixonado em 1999). Em 1996, a adaptação do romance de Jane Austen Razão e Sensibilidade, dirigida por Ang Lee e roteirizada por Emma Thompson, levou o prêmio de melhor filme na categoria drama do Globo de Ouro. O mesmo não se repetiu no Oscar, que decidiu premiar Coração Valente, de Mel Gibson, vencedor do prêmio de direção no Globo de Ouro. Razão e Sensibilidade havia ganhado o prêmio do Festival de Berlim, numa trajetória parecida com a de O Segredo de Brokeback Mountain, vencedor no Festival de Veneza. Todo o caso traz um dado curioso para a carreira do diretor Ang Lee, seus filmes têm trajetórias "azaradas" nas temporadas de premiação. Apesar do favoritismo surgir em algum momento na temporada, como foram os casos de O Tigre e o Dragão, O Segredo de Brokeback Mountain e As Aventuras de Pi (os dois últimos ainda renderam o Oscar de direção ao cineasta), seus filmes sempre acabam perdendo o Oscar de melhor filme para algum rival. Em comédia/musical, o Globo de Ouro de 1996 foi para Babe, de George Miller, também indicado ao Oscar de melhor filme.
1993
Globo de Ouro: Perfume de Mulher (foto) e O Jogador
E o Oscar foi para... Os Imperdoáveis
O clamor da época era por Perfume de Mulher e pelo Oscar de melhor ator para Al Pacino, um dos grandes da sua geração e que, até então, nunca vencera um prêmio de atuação. Como resultado, o filme de Martin Brest levou o Globo de Ouro de melhor filme na categoria drama, além dos prêmios de melhor ator e roteiro. No Oscar, das quatro indicações que Perfume de Mulher recebeu (filme, direção, roteiro adaptado e ator), apenas Al Pacino faturou sua esperada estatueta. Na ocasião, o retorno de Clint Eastwood ao western em Os Imperdoáveis acabou conseguindo criar um terreno mais favorável para uma vitória entre os votantes da Academia. Naquele ano, O Jogador, de Robert Altman, venceu o Globo de Ouro de melhor filme na categoria comédia/musical, que, aliás, não teve um dos seus concorrentes indicados ao Oscar.
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