Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha chega aos cinemas com expectativas de Oscar para a eterna nominável pela Academia de Hollywood Judi Dench. Pode até ser que esta nova parceria entre Dench e o diretor Stephen Frears, que a dirigiu em Sra. Henderson Apresenta, renda mais uma menção a atriz na lista final do Oscar, mas o filme faz muito pouco pela sua própria estrela.
No longa, Dench reprisa uma personagem que vivera em Sua Majestade, Mrs. Brown, filme de 1997 que rendeu a primeira indicação ao Oscar da atriz. Nele, a vencedora do prêmio da Academia por Shakespeare Apaixonado (atriz coadjuvante) vive a rainha Victoria logo depois que perde seu marido. Vinte anos depois, em Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha, Dench interpreta a monarca nos momentos finais da sua vida quando estabelece uma relação de cumplicidade com um indiano que logo se transforma no seu homem de confiança.
A grande força do filme é, sem dúvida, a interpretação de Judi Dench, que, servida por um roteiro pouco produtivo, consegue oferecer substância a uma personagem revelando outras facetas. A atriz vive a rainha Victoria com leveza, mas injeta doçura, autoridade, sabedoria e dramaticidade sempre que necessário, tornando a personagem complexa o suficiente para disfarçar a pouca oferta de informações do seu roteiro.
O grande problema de Victoria e Abdul é que para um filme calcado na relação de amizade entre a rainha Victoria e seu fiel empregado Abdul, o texto de Lee Hall faz muito pouco - e estamos tratando do mesmo roteirista de Cavalo de Guerra, mas também daquele que fora responsável por Billy Elliot. O laço de cumplicidade entre os protagonistas do filme é fortalecido artificialmente e o público não tem contato com uma trajetória que evidencie gradualmente os caminhos que fizeram a monarca confiar tanto em Abdul. A amizade é dada como coisa estabelecida e sustentada no desempenho dos seus atores, no caso, apenas no de Dench pois Ali Fazal, intérprete de Abdul, não é das melhores coisas do longa.
Com uma direção protocolar de Stephen Frears, que há anos não conduz um filme memorável (acredito que o último tenha sido A Rainha), Victoria e Abdul é um drama biográfico levemente relaxado. Há momentos em que ele demonstra tópicos interessantes, como o choque cultural do núcleo de indianos com os costumes ingleses, mas tudo é sabotado pelo maniqueísmo de um roteiro que se esforça na construção de personagens perversos o suficiente para fazer o público aderir automaticamente à história de Abdul e Victoria.
Victoria and Abdul, 2017. Dir.: Stephen Frears. Roteiro: Lee Hall. Elenco: Judi Dench, Ali Fazal, Tim Pigott-Smith, Eddie Izzard, Adeel Akhtar, Michael Gambon, Olivia Williams, Paul Higgins, Fenella Woolgar, Julian Wadham. Universal, 111 min.
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