'As Aventuras do Capitão Cueca' destaca a importância da imaginação na infância

Fazer uma animação, como qualquer tipo de conteúdo infantil, seja ele no cinema, teatro ou televisão, requer atenção e cuidado redobrado, muitas vezes maior que aquele conferido a obras voltadas para o público adulto. Por isso, sair de uma animação acreditando piamente que quaisquer decisões narrativas e estéticas de um filme quando questionáveis devem ser relevadas em função do material ser voltado exclusivamente para crianças é o tipo de argumentação que jamais deveria ser empregada. Dito isso, As Aventuras do Capitão Cueca: O Filme tem qualidades, como os traços originais da sua animação, algo que nem mesmo a Pixar consegue, e um discurso afetuoso a respeito do poder da imaginação infantil, mas também alguns tropeços, o principal deles é a falta de plot ou a aparência episódica da sua história. 

Adaptado da série de livros homônima, As Aventuras do Capitão Cueca os garotos George e Harold são melhores amigos e juntos criam um universo fantástico por meio das suas histórias em quadrinhos protagonizadas pelo Capitão Cueca, escritas por um e desenhadas pelo outro. Os garotos vivem às turras com o diretor da escola e no dia em que são levados para a detenção acabam colocando as mãos num anel hipnotizador. Acidentalmente, o objeto faz com que o diretor assuma a identidade do herói que George e Harold criaram e isso acaba gerando muita confusão na escola, sobretudo quando um novo professor é contratado e ele se revela o grande vilão da trama. 

Visualmente, As Aventuras do Capitão Cueca é até um refresco para o seu nicho de produção. O design dos personagens e os cenários vão na contramão dos traços sempre muito iguais dos longas de animação americanos, sejam eles em 3D ou 2D. A animação é claramente voltada para um público mais novo, com pouquíssima ambição de se tornar mais do que uma aventura episódica dos personagens que rapidamente introduzem na história, em especial os meninos George e Harold. 

 O longa de animação está longe de ser um dos mais memoráveis da DreamWorks, se revelando um produto rapidamente esquecível ao final da sessão, sobretudo por demorar a deixar claro para o espectador qual o mote central da sua trama. Quando o mesmo se revela, As Aventuras do Capitão Cueca acaba se construindo como uma trama episódica numa estrutura de apresentação de trama frágil para um longa. Há na história o mérito de trazer um discurso pró-imaginação, mas também uma representação levemente questionável do universo da escola que não oferece contraponto para as plateias mais novas, mas isso fica a cargo do espectador avaliar como administrará tais questões num diálogo com os filhos pós-sessão, até porque o filme oferece válvulas interpretativas que justificam um retrato relativamente negativo daquele ambiente também.

Captain Underpants: The First Epic Movie, 2017. Dir.: David Soren. Roteiro: Nicholas Stoller. Vozes: Kevin Hart, Ed Helms, Thomas Middleditch, Nick Kroll, Jordan Peele, Kristen Schaal, DeeDee Rescher, Brian Posehn. Fox, 89 min. 

Assista ao trailer do filme: