2017 anda sendo um ano-presente para os fãs de Stephen King. Completando 70 anos, o autor foi objeto de adaptações em diversos produtos audiovisuais, do aclamado It: A Coisa, passando pelo elogiado Jogo Perverso da Netflix e até exemplares recebidos com frieza pela crítica como A Torre Negra e a série O Nevoeiro, não faltam histórias que abordam o universo do escritor no corrente ano. 1922 é mais uma adaptação do autor a chegar para o público e, da mesma forma que Jogo Perverso, trata-se de uma produção original da Netflix. O resultado é minimamente curioso, sobretudo por conseguir captar a atmosfera macabra inerente a sua história e ter como carro-chefe a performance certeira de Thomas Jane, que, curiosamente estrelou duas adaptações cinematográficas de King, o ótimo O Nevoeiro e o mal afamado O Apanhador de Sonhos.
No longa, Jane interpreta o fazendeiro sulista Wilfred James, que, no ano que dá título ao filme, arquiteta junto com seu único filho um plano para assassinar a própria esposa e colocar um fim às suas ameaças de se livrar do terreno herdado pela família após o casamento. Depois de cometer o crime, Wilfred passa a ser atormentado pela culpa e pela convicção de que, de alguma forma, sua falecida esposa Arlette, papel de Molly Parker (da série Deadwood), anda manifestando sua ira contra a traição do esposo.
Dirigido e roteirizado por Zak Hilditch, 1922 carrega alguns gargalos típicos das adaptações de Stephen King para mídias audiovisuais. Se a premissa central consegue cativar a fidelidade do espectador à sucessão de acontecimentos a fim de desvendar o desfecho da sua história, por sua vez, determinados procedimentos mentais vivenciados pelo protagonista ora na forma de alucinações ora como metáforas visuais, acabam levando a narrativa de 1922 para idas e vindas que podem incomodar o público.
O grande mérito do filme está na maneira como Hilditch enxerga o conto de King como um relato de culpa e arrependimentos decorrentes de uma tragédia familiar extremamente macabra, explorando planos que sublinham a maldição da fazenda de Wilf. Do milharal isolado do mundo aos ratos que surpreendem o protagonista por todo canto da casa como uma lembrança maldita dos seus pecados, a maneira como o diretor encurrala o personagem de Thomas Jane numa espécie de maldição dos seus pensamentos obsessivos é certeira para fazer com que o espectador mergulhe numa história irremediavelmente sombria e que nos faz lembrar que todo ato tem suas consequências.
1922, 2017. Dir.: Zak Hilditch. Roteiro: Zak Hilditch. Elenco: Thomas Jane, Molly Parker, Dylan Schmid, Kaitlyn Bernard, Neal McDonough, Tanya Champoux, Brian d'Arcy James, Bob Frazer, Patrick Keating. Netflix, 102 min.
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